Lula manteve telefonema secreto com Maduro na semana passada
12/12/2025

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Segundo fontes, na primeira conversa 'amistosa' entre ambos em muito tempo, Lula expressou preocupação pelo assédio militar americano no Caribe e reiterou sua disposição para ajudar
Na semana passada, após o telefonema de 21 de novembro entre os líderes dos Estados Unidos e da Venezuela, Donald Trump e Nicolás Maduro, houve outro telefonema importante entre chefes de Estado da região, que não foi informado oficialmente. A ligação foi entre Maduro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confirmaram à coluna fontes oficiais. Foi o primeiro contato telefônico entre os dois este ano.
Foi, segundo as mesmas fontes, a primeira conversa “amistosa” entre ambos em muito tempo. Lula expressou preocupação com o assédio militar americano no Caribe e reiterou sua disposição para ajudar. Num diálogo cordial, frisaram as fontes, o ditador venezuelano não falou sobre ultimatos dados por Trump para que abandone o poder. Lula e Maduro tiveram uma conversa “simpática”, disse uma das fontes, e, na avaliação de pessoas consultadas em Brasília e Caracas, o fato de ambos terem se falado é uma boa notícia para os dois países.
Por que ocorreu o telefonema? As fontes não quiseram dar muitas explicações, mas revelaram que, para o Brasil, era importante ter um contato em momentos em que Maduro conversa com Trump, e poderia se oferecer como um eventual mediador entre os dois governos.
Teria pesado na decisão, também, a visita a Caracas do empresário brasileiro Joesley Batista. O governo brasileiro não esteve envolvido na visita de Batista a Maduro, reiteraram as fontes consultadas, mas o fato de um importante empresário brasileiro ter ido até a capital venezuelana e se reunido com o presidente do país teria sido um dos elementos analisados na hora de pensar se era ou não o momento de retomar o contato entre Lula e Maduro.
Em seus telefonemas e encontros com Trump, o presidente brasileiro tem reiterado os riscos de um ataque militar na região e defendido a necessidade de buscar uma saída política e diplomática para a crise. O Brasil não está se articulando com outros países latino-americanos, mas conversa com outros governos sobre o tema, confirmaram fontes oficiais. Um desses governos é a Colômbia de Gustavo Petro, que já chegou a oferecer a cidade de Cartagena como um local para uma futura conversa presencial entre Trump e Maduro.
O chefe de Estado venezuelano sai pouco de seu país, por medo de uma detenção no exterior. As denúncias contra Maduro se multiplicam, e os riscos de sair da Venezuela são grandes para o ditador. Propostas como a da Colômbia não prosperaram, mas há muitos países tentando ajudar a evitar o pior cenário na disputa entre Venezuela e Estados Unidos.
Um deles é a Turquia, cujo presidente, Recep Tayyip Erdogan, telefonou para Maduro no último fim de semana. A conversa, neste caso, foi confirmada oficialmente, pelos dois governos. Maduro e Erdogan, afirmaram as chancelarias dos dois países, trocaram “posições, critérios e avaliações” sobre a conjuntura geopolítica mundial, em especial sobre a grande deslocação militar dos EUA no Caribe.
Esfriamento das relações
No caso do Brasil, a retomada do contato com Maduro não foi revelada oficialmente. A relação com a Venezuela é tratada como um tema sensível pelo Palácio do Planalto. Lula tem feito declarações contra o assédio militar americano e foi especialmente duro em seu discurso na última Assembleia Geral das Nações Unidas.
A relação entre o governos se estremeceu em 2024, primeiro pela decisão do governo brasileiro de não dar seu aval aos resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), ou seja, à segunda reeleição de Maduro (a primeira foi em 2018). Três meses depois, o Brasil também não respaldou a proposta de Rússia e China de incorporar a Venezuela ao Brics, na cúpula de chefes de Estado de Kazan. Naquele momento, importantes representantes do governo Lula afirmaram que a confiança entre Brasil e Venezuela “estava quebrada”.
Desde então, a relação entrou numa fase de esfriamento. As negociações pela dívida da Venezuela com o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), de cerca de US$ 1 bilhão, não avançaram. Tampouco as conversas sobre a intenção da Venezuela de anular um acordo bilateral sobre tarifas, o Acordo de Complementação Econômica 69, o que implicará aumentar as taxas que os produtos brasileiros pagam para entrar no mercado venezuelano.
Em Caracas, representantes diplomáticos brasileiros mantêm reuniões com autoridades locais, especialmente quando embaixadores estrangeiros são convocados pelo Ministério das Relações Exteriores venezuelano para dar sua versão sobre a disputa com os EUA de Trump.
O Brasil continua representando a Argentina perante o governo venezuelano e, sobretudo, resolvendo temas consulares para cidadãos argentinos na Venezuela. A saída dos quatro asilados venezuelanos na embaixada argentina em Caracas foi um alívio para o Brasil, mas o país continua cuidado dos interesses argentinos no país.
A relação com a Venezuela é importante para o governo Lula, que cuida de cada palavra e gesto para evitar mais tensões com o Palácio Miraflores. Fontes do governo Lula costumam lembrar que o período em que o Brasil esteve ausente da Venezuela custou ao caro ao país em termos de acesso a informações locais, e espaço perdido para outros países que hoje são importantes aliados do chavismo, entre eles Rússia, China, Irã e Turquia.

























