Crise política e governo impopular: o que levou o presidente da Coreia do Sul a decretar lei marcial

04/12/2024

Fonte: Por Wesley Bischoff, g1 — São Paulo

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Yoon Suk Yeol anunciou a medida para restringir direitos civis nesta terça-feira (3), argumentando ameaças de 'forças comunistas'. Medida foi alvo de protestos e rejeitada por deputados.

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, decretou nesta terça-feira (3) uma lei marcial restringindo direitos civis e substituindo a legislação padrão por leis militares. A medida, no entanto, gerou uma série de reações negativas e durou cerca de seis horas.

O presidente anunciou que iria revogar o decreto após os deputados fazerem uma votação de emergência para rejeitar a medida.

O decreto de uma lei marcial foi feito em um contexto de baixa aprovação do presidente Yoon Suk Yeol e de troca de farpas entre o governo e a Assembleia Nacional — que é controlada pela oposição. Além disso, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte vivem uma escalada de tensões militares.

O anúncio da lei marcial pegou os sul-coreanos de surpresa e expôs a crise política do país, que vem se agravando nos últimos meses.

Nesta reportagem você vai entender:

 

  1. O que aconteceu?
  2. Os desafios do governo Yoon
  3. Crise política
  4. Conflito com a Coreia do Norte

1. O que aconteceu?

Ao anunciar a lei marcial, o presidente Yoon argumentou que queria "limpar" o país de aliados da Coreia do Norte e fez críticas à oposição. "Declaro lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas norte-coreanas", disse.

Veja a seguir um resumo do que aconteceu:

 

  • Com a aplicação da lei, todas as atividades políticas, incluindo manifestações, foram proibidas.
  • O acesso à Assembleia Nacional foi fechado, e forças especiais da polícia foram enviadas para conter manifestantes. A imprensa também passou a ser controlada pelo governo.
  • A oposição acusou o presidente de estar usando o conflito com a Coreia do Norte para controlar a Assembleia Nacional. Atualmente, a grande maioria dos parlamentares se opõe ao governo de Yoon.
  • Mesmo com a Assembleia fechada, os deputados conseguiram entrar no edifício e fizeram uma sessão de emergência na qual declararam a lei marcial inválida.
  • A medida do presidente também causou reações negativas dentro do próprio governo.
  • Milhares de sul-coreanos foram às ruas para uma manifestação contra a medida.
  • Yoon anunciou que iria revogar a lei após a votação dos deputados.
  • Yoon foi eleito presidente em maio de 2022, por uma margem inferior a 1%, como candidato da direita pelo Partido do Poder Popular. Novato na política, ele ganhou a atenção pública como promotor após investigar alguns dos escândalos de corrupção mais notórios do país.

    O político sul-coreano assumiu o poder com o desafio de reduzir o custo de vida e os preços elevados das moradias, além de combater o aumento da desigualdade e do desemprego entre os jovens.

    Outro problema sul-coreano é o baixo índice de natalidade. O governo tem investido bilhões de dólares todos os anos para estimular o nascimento de bebês. Ainda assim, o país se vê diante da possibilidade de uma crise demográfica.

    Além dos problemas da Coreia do Sul, o atual governo se viu envolvido em acusações de corrupção. A primeira-dama, por exemplo, foi gravada recebendo como presente uma bolsa de luxo avaliada em quase R$ 11 mil. O valor ultrapassa o que é permitido pela lei.

    Pesquisas indicam que o trabalho de Yoon vem sendo reprovado pela população sul-coreana. As taxas de aprovação do governo estão em torno de 20%, o que tem gerado uma pressão política sobre o presidente.

  • Em abril deste ano, o Partido Democrata — de oposição ao governo de Yoon — venceu com ampla vantagem as eleições parlamentares. Com isso, a legenda ampliou o controle da Assembleia Nacional, conquistando mais de 170 das 300 cadeiras da Casa.

    À época, Yoon fez um pronunciamento prometendo mudanças no governo e políticas para estabilizar a economia na Coreia do Sul.

    Enquanto isso, a oposição aprovou moções para investigar a primeira-dama. Todos os projetos acabaram sendo vetados pelo presidente.

    Na semana passada, o Partido Democrata rejeitou o orçamento do governo e avançou com um plano de revisão de gastos, cortando o equivalente a mais de R$ 17 bilhões. A medida irritou o gabinete presidencial, sendo que a porta-voz do governo chamou a ação de "tirania parlamentar".

  • Ao anunciar a lei marcial nesta terça-feira, Yoon descreveu a oposição como "forças pró-Coreia do Norte, sem vergonha, que estão saqueando a liberdade e a felicidade" dos sul-coreanos.

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    4. Conflito com a Coreia do Norte

  • A Península da Coreia enfrenta uma escalada de tensões. As relações entre Coreia do Sul e Coreia do Norte se deterioraram nos últimos anos, fazendo com que exercícios militares na região se tornassem mais frequentes.

    Só no último ano, a relação entre os dois países foi marcada por ameaças, rompimento de um acordo de não agressão, testes com mísseis balísticos internacionais e até o despejo de balões transportando sacos com lixo e fezes.

    Com a piora nas relações, os Estados Unidos firmaram uma parceria com a Coreia do Sul, o que resultou em vários exercícios militares conjuntos.

    Já o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, ordenou que seu Exército se preparasse para um possível conflito. Ele também pediu urgência para acelerar os preparativos para a guerra.

    Em junho, Rússia e Coreia do Norte assinaram um acordo de ajuda mútua que resgata relações semelhantes que os países tinham durante a Guerra Fria.

    Três meses depois, Kim Jong-un anunciou que a Coreia do Norte ia aumentar o número de armas nucleares para usá-las a qualquer momento. Estradas e ferrovias que tinham ligações com o Sul foram fechadas.

    Além disso, a Coreia do Norte alterou a própria Constituição para declarar a Coreia do Sul como um país hostil. Na prática, os norte-coreanos passaram a ver o Sul como um país separado — e inimigo.

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