Por 2026, aliados de Lula resistem a ‘entregar’ Bolsa Família a Tebet

22/11/2022

Fonte: O globo Por Bianca Gomes e Sérgio Roxo — São Paulo

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Integrantes do entorno do presidente têm receio de turbinar possível campanha da emedebista nas próximas eleições

Com receio de turbinar as pretensões eleitorais da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para 2026, integrantes do entorno do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resistem à ideia de a terceira colocada na eleição presidencial assumir o Ministério do Desenvolvimento Social (atual Cidadania). A avaliação é que, ao comandar a pasta de orçamento bilionário responsável pelo Bolsa Família, Tebet teria condições para criar conexões com a população de baixa renda e, assim, elevar o seu capital político. Mesmo longe, a eleição de 2026 já é alvo de especulações porque Lula afirmou que não disputará a reeleição.

O desejo de parte dos petistas é ver Tebet na Agricultura, ideia rejeitada por ela, que durante toda a campanha tentou descolar sua imagem do agronegócio. Aliados da senadora entendem que a indicação para a pasta seria um jeito de o PT colocá-la numa “caixinha” e evitar que seu nome ganhe projeção para 2026. Também não faria sentido do ponto de vista estratégico, uma vez que o agronegócio dialoga mais com o Centro-Oeste, seu reduto eleitoral, e o Sul do país.

Diante do impasse, uma opção seria escalar Tebet na Educação, mas ela também não demonstra entusiasmo. Apesar de seu peso político pós-eleição, a senadora tem dito a aliados que o ministério concentra muitos interesses privados e não tem grande poder de execução. Nas palavras de um aliado da senadora, ela não quer virar uma “burocrata” de Brasília.

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Com espírito crítico, Tebet também tem falado sobre a economia do governo, o que tem gerado ruídos com o comando da futura gestão. No dia 11, ela disse à GloboNews que o primeiro ministro a ser anunciado por Lula deveria ser o da Fazenda. Essa, na sua opinião, seria uma forma de evitar ruídos causados “a cada fala” política de Lula.

Como o colunista Lauro Jardim noticiou na edição de ontem, Lula deixou claro a aliados que não gostou dessa declaração de Tebet sobre a ordem de anúncio de ministros, começando pelo da Fazenda. A desenvoltura em palpites públicos sobre a montagem do novo governo fez a emedebista ser criticada em conversas de dirigentes petistas.

O governo e a sucessão

Mais recentemente, ventilou-se a possibilidade de a senadora ocupar o Meio Ambiente. Interlocutores de Tebet, porém, acreditam que a ideia perde força com a criação da Autoridade Climática, vaga que pode ser ocupada pela deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), que já é referência na área. A indicação da emedebista para esse ministério criaria mais conflito do que solução, avaliam seus interlocutores.

Um dos aliados mais próximos de Lula diz que o presidente eleito não entregaria o comando dos programas sociais a uma possível adversária do PT na próxima eleição presidencial. Ele não vê possibilidade de o partido abrir mão de indicar o sucessor de Lula. O ex-prefeito Fernando Haddad e o governador da Bahia, Rui Costa, são citados como possíveis candidatos a presidente em 2026.

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O entendimento, porém, não é unânime. Segundo alguns petistas, Tebet terá o ministério que desejar porque, diante do cenário político tenso, não podem haver deserções na frente ampla criada no segundo turno da eleição.

A possibilidade de o próprio Lula, ao fim do seu governo, decidir por apoio a Tebet não é descartada nesse grupo. A decisão romperia com uma postura que os aliados do PT classificam como hegemônica por parte do partido.

De acordo com a avaliação de uma liderança do PT, na montagem do governo Lula começará a indicar os caminhos para a sua sucessão. Os primeiros nomes devem ser anunciados nos próximos dias.

Um outro caminho considerado possível por integrantes do entorno de Lula é uma candidatura presidencial encabeçada pelo vice Geraldo Alckmin (PSB).

Prefeito de Araraquara (SP) e um dos coordenadores da comunicação da campanha presidencial, Edinho Silva (PT) diz que o foco do momento deve ser combater o bolsonarismo e não pensar em 2026:

— É hora de sermos mais racionais do que reativos. Nós ganhamos uma eleição, não derrotamos politicamente o bolsonarismo. Se ficarmos agora olhando a sucessão do Lula, será o primeiro passo para a derrota.

Edinho entende que o candidato à sucessão deve ser aquele que tiver melhores chances de vencer, deixando a porta aberta para o apoio a um nome que não seja do PT :

— Temos que unificar as forças democráticas, fazer um governo excepcional e impor uma derrota política ao fascismo. Em 2026, disputa a sucessão quem tiver mais condições de vitória. Até lá, a luta será longa e muito difícil. Não estamos diante de um adversário aniquilado.

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Senadora quer o social

Em face da possibilidade de ter a área social vetada pelo PT, o MDB já trabalha com um cenário no qual Tebet não será ministra no governo Lula. Ao GLOBO, o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi, disse que a senadora saiu “muito forte” da eleição e com certeza terá admiração e apoio do partido “independentemente” de sua participação no governo Lula.

— A Simone é um projeto que foi um sucesso e terá quatro anos de muito trabalho para fortalecer o partido na eleição municipal e no futuro da legenda — disse ele.

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A senadora já integra o grupo técnico de Desenvolvimento Social na transição de governo. O GLOBO apurou que ela recebeu uma espécie de cheque em branco de Alckmin para escolher a sua participação na equipe. A emedebista entende que pode contribuir no futuro governo na área social. Não à toa, o tema foi central em seu programa de governo.

O martelo sobre sua participação no governo deve ser batido nesta semana, quando a senadora terá sua primeira conversa com Lula após o resultado das eleições.

Na transição, Tebet já fala em ampliar as contrapartidas para a transferência de renda, a exemplo de uma bolsa para estudantes que concluírem o ensino médio; criar uma política mais estruturada para a população de rua de grandes centros urbanos — problemática social que está nas mãos principalmente dos prefeitos, sem suporte do governo federal; e ampliar o Cadastro Único e recuperar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).