Ministério de Lula: aliados, PSOL e PDT estão à espera de espaço no governo e mostram desconforto

26/12/2022

Fonte: O globo Por Paula Ferreira e Bruno Abbud — Brasília

COMPARTILHE

Legendas aliadas mostram desconforto e vivem expectativa enquanto Lula priorizou pastas para o PT e negocia cargos com partidos do Centrão e de bancadas maiores na Câmara

Vinte e cinco dias depois de vencer a eleição e de já ter anunciado mais da metade dos ministros do futuro governo, o petista Luiz Inácio Lula da Silva não indicou quais planos reserva para duas legendas aliadas: PDT e PSOL, este último parte integrante da sua coligação desde o primeiro turno. Nesse período, o presidente eleito acomodou correligionários do PT em sete pastas, contemplou outras siglas do seu campo ideológico, como PSB e PCdoB e agora negocia espaços com partidos do Centrão, como o União Brasil. O calendário adotado até aqui já começou a gerar incômodos.

O PSOL está dividido internamente sobre compor o ministério, mas há consenso sobre a indicação da deputada eleita Sônia Guajajara (SP) para a cadeira de Povos Indígenas a ser criada. Ela seria a ministra do partido, e estava cotada para ser uma das primeiras anunciadas, mas agora está sob risco até de ficar fora. Ganhou a concorrência da deputada federal Joênia Wapichana, da Rede, outro partido que ainda não tem um ministro anunciado, mas deverá ser representado por Marina Silva no Meio Ambiente.

Haddad para a fazenda e Rui Costa para a Casa Civil estão entre os primeiros escolhidos

Principal nome do PSOL hoje, o deputado eleito Guilherme Boulos (SP) chegou a sinalizar que gostaria de ser o titular do Ministério da Cidades, sem sucesso. Depois, disse que assumiria sua vaga na Câmara federal. Uma resolução aprovada pelo próprio partido na semana passada dificulta o ingresso de seus integrantes, como Boulos, na próxima administração federal. Na ocasião, por maioria, a sigla decidiu formalizar o apoio ao governo Lula e definiu que não vai indicar ninguém ao primeiro escalão do petista. A medida, contudo, define que eventuais ministros têm de se afastar de cargos no partido.

— Hoje, nós temos a perspectiva pelo nome da Sônia Guajajara para o ministério dos Povos Indígenas — limitou-se a dizer Boulos.

Quadro histórico do partido, o deputado federal Ivan Valente (SP) admite, no entanto, que a demora na nomeação de Guajajara não está sendo bem digerida por parte dos membros do PSOL. O parlamentar votou contra a resolução em que a sigla abriu mão de pleitear a participação no governo, embora reconheça que se trata de um posicionamento legítimo, referendado pela maioria:

— O caso da Guajajara, a própria resolução deixa claro que é diferente. Certamente, a demora está causando incômodo. Lula disse que o Ministério dos Povos Indígenas ficará com um indígena.

Na opinião do deputado paulista, Lula também já deveria ter oficializado Marina Silva como ministra do Meio Ambiente e, de modo geral, olhado com mais atenção para partidos de esquerda.

— O governo de transição deveria ter andado mais rapidamente para contemplar os aliados de primeira hora.

Organização do ministério: Lula deve anunciar Jean Paul Prates para a presidência da Petrobras na próxima semana

O GLOBO apurou que o fato de Lula já ter agraciado o PCdoB com um ministério, ao anunciar Luciana Santos para a Ciência e Tecnologia, não foi bem recebido entre personagens de partidos de esquerda que ainda esperam ser contemplados.

Paciência

Histórico integrante de governos petistas, o PDT também ainda não ganhou espaço, mas evita questionamentos públicos. O discurso é de que a legenda não pode pleitear os primeiros lugares da fila de ministeriáveis, visto que só declarou apoio à candidatura de Lula no segundo turno. O partido lançou à presidência o ex-ministro Ciro Gomes, que terminou a corrida na frustrante quarta posição e teve embate agressivo com Lula durante toda a campanha.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, evita falar em insatisfação. Ele é cauteloso ao analisar a possibilidade de ocupar cargos na Esplanada a partir do mês que vem.

— Estamos aguardando a palavra do presidente Lula. Naturalmente, ele acomodou quem o apoiou no primeiro turno, desde a primeira hora. Não temos direito de exigir, nos cabe aguardar o que ele propõe — despista.

Até a sexta-feira, a Rede fazia parte do time das legendas que ainda seguiam sem um aceno de Lula para ocupar um lugar na Esplanada em 2023 até que o presidente eleito convidou Marina Silva para ser titular do Ministério do Meio Ambiente, função que ela provavelmente aceitará. Nos últimos dias, ela ficou no centro dos debates travados pelo petista. Principal nome cotado para voltar à pasta ambiental, Marina também foi sondada para assumir a Autoridade Climática, um órgão que será criado na nova administração, mas não aceitou. Nesse cenário, o Meio Ambiente seria entregue à senadora do MDB Simone Tebet (MS), candidata que terminou a corrida à Presidência em outubro em terceiro lugar, mas que agora pode ficar com Cidades ou Planejamento.

Na última quinta-feira, Lula anunciou mais 16 ministros do seu futuro governo. Até agora, há 21 nomes do primeiro escalão já conhecidos. Pelo planejamento anunciado pelo grupo de transição, restam 16 vagas para formar o primeiro escalão. Nos próximos dias, o petista deve intensificar as conversas com agremiações de centro, como União Brasil, MDB e PSD.