Hospital de referência para tratar Covid-19 no Rio tem 90% dos leitos de UTI ocupados

14/04/2020

No início do mês, o presidente Jair Bolsonaro chegou a usar a unidade, que ainda estava com muitos leitos vagos, como exemplo de que a crise sanitária provocada pelo coronavírus 'não é tudo isso que estão pintando'.

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Rede estadual de saúde tem 71,4% dos leitos de UTI e 48,5% das enfermarias ocupados

O hospital de referência no tratamento da Covid-19 da prefeitura do Rio, o Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte da cidade, tem mais de 90% das vagas ocupadas nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). É ele que concentra a maioria dos leitos disponíveis para tratamento de pacientes vítimas do novo coronavírus na capital.

De acordo com um levantamento feito pelo Bom Dia Rio, a rede municipal de Saúde do Rio tem, no momento, 170 leitos exclusivos para o coronavírus.

Destes, 150 são no Hospital Ronaldo Gazolla e, dentre eles, 137 já estão ocupados e somente 13 estão vagos.

No início do mês, o presidente Jair Bolsonaro chegou a usar o Hospital Ronaldo Gazzola como exemplo de que havia exagero na prevenção à Covid-19.

"Desconheço qualquer hospital que esteja lotado. Desconheço. Muito pelo contrário, tem hospital no Rio de Janeiro, o tal de Gazola, se eu não me engano, tem 200 leitos e tem 12 ocupados. Não é isso tudo o que estão pintando", afirmou o presidente.

Há 12 dias, a unidade tinha 56 pacientes internados com suspeita de coronavírus, dos quais 21 estavam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Veja abaixo a situação em outras unidades de saúde do município.

Ocupação de leitos na rede municipal do Rio — Foto: Bom Dia Rio

Hospital Jesus

No Hospital Municipal Jesus, em Vila Isabel, na Zona Norte, são dez leitos no total: oito ocupados, dois vagos.

CER Leblon

Na CER do Leblon, na Zona Sul, são dez vagas de UTI. Mas a prefeitura não informou quantos estão ocupados e quantos estão livres.

Rede estadual e federal

A alta ocupação não acontece somente na rede municipal. Nas unidades da rede estadual existentes na capital, a ocupação das UTIs chega a 71%.

Na rede federal, menos de 10% dos leitos existentes estão funcionando e estão todos ocupados.

O balanço não considera os dados dos hospitais de campanha que estão sendo montados na cidade.

A matemática das UTIs: 3 desafios para evitar que falte cuidado intensivo durante a pandemia no Brasil

As UTIs são importantes no tratamento de pacientes com sintomas graves da Covid-19. Quando a vítima do novo coronavírus tem o quadro respiratório agravado, ela precisa ser entubada e submetida a tratamento com suporte específico, oferecido somente em UTIs.

A alta na demanda por UTIs é um dos motivos que levam a Organização Mundial de Saúde a recomendar o isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus. A ideia é achatar a curva de contágio da doença, freando a demanda por internação hospitalar dos pacientes graves.

Rede estadual tem 71% de UTIs ocupadas

Na rede estadual, no total são 548 leitos divididos pelo Instituto do Cérebro, Hospital Zilda Arns (Volta Redonda), Hospital Anchieta, Santa Casa de Angra dos Reis (Angra dos Reis) e Hospital Universitário Pedro Ernesto.

Nessas unidade, 48,5% dos leitos de enfermaria estão ocupados. E há 71% de ocupação nos leitos de UTI. Ou seja, de cada dez leitos, sete já estão ocupados com pacientes com coronavírus.

Ocupação de leitos na rede estadual do Rio de Janeiro — Foto: Bom Dia Rio

Na rede federal, o Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio teria 170 leitos programados. Mas somente 15 estão realmente funcionando e todos já estão ocupados. Os outros 155 leitos não foram abertos por falta de funcionários.

Vale lembrar que a Prefeitura do Rio está em processo de contratação temporária de 5 mil profissionais para suprir as carências das redes no combate à pandemia.

Rede federal de saúde no Rio de Janeiro tem apenas 15 leitos funcionando, todos ocupados — Foto: Bom Dia Rio

Reclamações por infraestrutura precária

Parentes de pacientes reclamam que o hospital de referência para o tratamento da Covid-19, o Ronaldo Gazolla, não tem água nos banheiros, falta isolamento e condições de higiene adequadas.

Pacientes dizem que hospital Ronaldo Gazolla está lotado e que falta água na unidade

Elaine Gomes, nora da paciente Marlene da Conceição Ferreira Gomes, de 72 anos, que está entubado no CTI, contou que ficou dois dias sem notícias da sogra. Segundo ela, a sogra foi levada na terça-feira (7) ao Hospital Salgado Filho, no Méier, e foi transferida na quinta-feira (9), para o Ronaldo Gazolla, sem o conhecimento da família.

"O hospital está superlotado, a recepção lotada. A gente chega lá 13h e não tem hora para sair. Pode conversar com o médico ou não. E daqui a pouco vamos estar contaminados. Tem um telefone para mais de 50, 60 pessoas falar, passando o mesmo pano o tempo todo. O hospital de referência não tem água no banheiro. Tem dia que não tem álcool em gel", reclamou Elaine.

A mulher de outro paciente disse que ele está internado em estado grave, que pediu para que fosse dado um remédio a ele e que se negaram a entregar a ela o prontuário do paciente.

Prefeitura nega

A Secretaria Municipal de Saúde informou que segue os protocolos do Ministério da Saúde para o atendimento na recepção. Disse que a paciente Marlene foi mantida em isolamento e que a prioridade é salvar a vida dos pacientes. Destacou ainda que nem sempre é possível avisar as famílias com antecedência sobre as transferências.

A Secretaria negou a superlotação do hospital Ronaldo Gazolla e diz que pode ter havido alguma situação pontual no abastecimento de água, afirmando que atualmente não há registro de falta d'água na unidade.