Campos Neto surpreende, acompanha Galípolo e vota por corte de 0,5 ponto na Selic, na primeira decisão sem consenso no BC em um ano

03/08/2023

FONTE: Por Renan Monteiro — Brasília

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Decisão não foi unânime, mas o presidente do BC acompanhou o novo diretor de Política Monetária, ex-braço direito de Haddad que foi indicado pelo presidente Lula, e teve papel de desempate

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, surpreendeu e votou por uma redução de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que terminou hoje. Ele acompanhou o novo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, e acabou exercendo o papel de desempate.

Com isso, o Banco Central anunciou na noite desta quarta-feira o primeiro corte da taxa básica de juros desde agosto de 2020. Em uma reunião com divergência entre os diretores do Copom, a Selic caiu de 13,75% para 13,25%, ou 0,5 ponto percentual. O voto de Campos Neto serviu para desempatar em favor do corte de 0,50 ponto, mais ambicioso que o projetado por uma boa parte dos analistas de mercado que apostavam queda de 0,25 ponto.

Cinco diretores votaram pelo corte de 0,5 ponto da Selic na reunião de hoje do Banco Central e quatro, pela redução menor, de 0,25 p.p. Votaram pela redução de 0,5 ponto o presidente Roberto Campos Neto e os diretores Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso.

Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros: Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes. Foi a primeira divergência em uma decisão do Copom desde agosto do ano passado.

Desde então, as decisões anteriores de manter os juros em 13,75% ao ano foram consensuais. Dessa vez, todos votarão para cortar a taxa, mas divergiram sobre o tamanho da redução.

Primeira queda em três anos

 

Os juros foram mantidos no patamar de 13,75% por um ano, desde agosto de 2022, ou sete reuniões seguidas. Já a última queda havia acontecido em agosto de 2020, no primeiro ano da pandemia, quando a taxa passou de 2,25% para 2%.

 

 

Ao longo deste ano, a manutenção da Selic em 13,75% foi motivo de acirramento na relação entre governo e integrantes da autoridade monetária, com críticas centralizada ao presidente do BC, Roberto Campos Neto -- indicado na gestão de Jair Bolsonaro e o primeiro a dirigir o BC com autonomia operacional regulamentada.

Em encontro com correspondentes internacionais na manhã desta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a citar Campos Neto, alegando que o chefe do BC “não entende de Brasil e de povo” e reforçou que o governo esperava que o início do ciclo de corte Selic fosse iniciado nesta quarta-feira.

A redução dos juros já era esperada pelo mercado financeiro e pela equipe econômica do governo. A dúvida estava na intensidade do corte, com apostas majoritárias entre 0,25 ou 0,5 ponto percentual.