'Risco Musk' empurra os investidores da Tesla para perto do limite

19/12/2022

Além das incertezas econômicas, com a inflação elevada pressionando o poder de compra ao redor do mundo inteiro, investidores temem que comportamentos do bilionário afetem as ações da Tesla

Uma estação Tesla Supercharger na Califórnia Nina Riggio/Bloomberg

O “risco Musk” pesa sobre as ações da Tesla há algum tempo, mas atingiu outro nível esta semana quando o líder inconstante da fabricante de veículos elétricos provocou ainda mais incertezas e fez com que as ações da empresa despencassem.

O preço das ações da Tesla caiu 16% nas últimas cinco sessões, em sua pior semana desde o início da pandemia em março de 2020. Em comparação, os índices S&P 500 Index e Nasdaq 100 caíram menos de 3%. O desempenho é ainda pior olhando para trás, com as ações despencando 43% até agora neste trimestre, enquanto proeminentes analistas de Wall Street diminuem suas expectativas para a empresa de Elon Musk e a indústria de veículos elétricos como um todo.

O enxame de atividade em torno de Musk e Tesla na semana passada foi avassalador. A liquidação empurrou a empresa para um valor de mercado abaixo de US$ 500 bilhões pela primeira vez em mais de dois anos. Os mercados Goldman Sachs e RBC Capital reduziram suas metas de preço para as ações.

Depois, Musk adicionou ainda mais preocupação aos investidores quando vendeu quase US$ 3,6 bilhões em ações da Tesla, possivelmente para ajudar a refinanciar a dívida de sua compra do Twitter. Além disso, o bilionário foi derrubado do pico do Bloomberg Billionaires Index, o que significa que ele não é mais a pessoa mais rica do mundo.

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Na quinta-feira, as críticas ao seu controverso modo de gerenciar as regras de mídia social do Twitter se multiplicaram, quando ele suspendeu as contas de jornalistas conhecidos em veículos como o New York Times e o Washington Post.

"Acho que as ações só vão cair a partir daqui", disse Catherine Faddis, gerente sênior de portfólio da Fernwood Investment Management. “Elon Musk prejudicou sua reputação com esse negócio de Twitter e todo o fluxo de notícias negativas.”

À medida que as preocupações com a economia e uma recessão no próximo ano continuam a crescer, as perspectivas da Tesla provavelmente ficarão mais sombrias. A demanda por seus caros veículos elétricos pode diminuir à medida que a alta inflação e o aumento das taxas de juros minam a demanda dos consumidores relutantes em gastar em itens caros. O espectro de uma desaceleração provavelmente fará com que os investidores em ações busquem segurança em compras estáveis, em vez de ações de crescimento como a Tesla.

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“Quando você tem um estoque de crescimento de alta octanagem, que depende de projeções que estão a anos de distância, a confiança é muito importante e, uma vez que a confiança seja quebrada, o estoque pode quebrar à medida que o suporte diminui”, disse Faddis.

Com base apenas na avaliação da Tesla, provavelmente há espaço para novas quedas. Com seu atual valor de mercado em US$ 474 bilhões, a empresa ainda está muito acima dos principais fabricantes de automóveis globais, negociada a 36 vezes os ganhos futuros em comparação com múltiplos de um dígito médio da General Motors, da Ford Motor e da Honda Motor. A Tesla supera até a relação média preço/lucro do Índice Nasdaq.

Além das preocupações de que Musk esteja muito focado no Twitter, há outros riscos para a Tesla. No início desta semana, Adam Jonas, analista do Morgan Stanley, alertou que os freios estavam “guinchando” na demanda por veículos elétricos, à medida que os preços subiam devido ao aumento dos custos das matérias-primas, levando a acessibilidade ao ponto de ruptura.

Jonas reduziu suas expectativas para a taxa de adoção de veículos elétricos nos Estados Unidos até o final da década. O analista do Goldman Sachs, Mark Delaney, adotou um tom semelhante, dizendo que os indicadores macro moderados em várias regiões e os recentes cortes de preços da Tesla sugerem que a dinâmica global de oferta e demanda agora é mais suave para a empresa.

“Esperamos que 2023 seja um ano difícil para o setor, pois a desaceleração da demanda é atendida com um aumento significativo na oferta”, disse Ivana Delevska, diretora de investimentos da Spear Invest. A Tesla não é mais um player de nicho e, portanto, começará a ver a ciclicidade, assim como outros fabricantes de automóveis. A companhia ainda “vende para o mercado de luxo de classe média, que pode ser particularmente atingido”.