O grupo de WhatsApp que salvou vítimas do tráfico de mulheres

20/03/2024

Fonte: G1 Por BBC

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A BBC Africa Eye investigou como um grupo do WhatsApp ajudou a salvar mais de 50 mulheres do Malauí levadas para Omã para trabalhar em condições de escravidão.

Aviso: esta matéria contém detalhes que podem ser considerados perturbadores.

Uma mulher de 32 anos chora ao relembrar o abuso que sofreu quando, na esperança de uma vida melhor, viu-se trabalhando como empregada doméstica em Omã.

Georgina, que, como todas as mulheres traficadas entrevistadas pela BBC, optou por usar apenas seu primeiro nome, acreditava que havia sido recrutada para trabalhar como motorista em Dubai.

Dona de um pequeno negócio em Lilongwe, capital do Malauí, ela foi abordada por um agenciador enquanto trabalhava com a promessa de que ela poderia fazer mais dinheiro no Oriente Médio.

Somente quando o avião pousou em Mascate, a capital de Omã, que ela percebeu que havia sido enganada e caído nas mãos de uma família que a fazia trabalhar horas extenuantes, sete dias por semana.

"Cheguei a um ponto em que não aguentava mais", diz ela, contando que dormia apenas duas horas por noite.

Não muito depois, seu chefe começou a forçá-la a fazer sexo com ele, ameaçando atirar nela se ela dissesse alguma coisa.

"Não era só ele", diz ela. "Ele trazia amigos e eles o pagavam depois."

Ela conta que também foi forçada a fazer sexo anal. "Fui gravemente machucada. Fiquei muito perturbada."

 

Estima-se que haja cerca de dois milhões de trabalhadoras domésticas nos Estados árabes do Golfo.

 

Em uma pesquisa com 400 mulheres em Omã feita pela instituição de caridade de migrantes Do Bold, publicada pelo Relatório de Tráfico de Pessoas do Departamento de Estado dos EUA de 2023, descobriu-se que quase todas eram vítimas do tráfico de pessoas.

Quase um terço disse que foi abusada sexualmente e metade relatou ter sofrido abuso físico e discriminação.

Depois de várias semanas, Georgina ficou desesperada e, em um post no Facebook, implorou por ajuda.

A milhares de quilômetros de distância, no Estado americano de New Hampshire, uma ativista de redes sociais do Malauí, Pililani Mombe Nyoni, de 38 anos, viu a mensagem e começou a investigar.

Pililani entrou em contato e conseguiu remover a postagem do Facebook para a segurança de Georgina e compartilhou seu número do WhatsApp, que começou a circular em Omã. Ela logo percebeu que o problema era maior.

"Georgina foi a primeira vítima. Depois era uma garota, duas garotas, três garotas", disse ela à BBC.

"Foi quando eu disse: 'Vou criar um grupo (de WhatsApp) porque isso parece tráfico de pessoas'."

Mais de 50 mulheres do Malauí que atuavam como trabalhadoras domésticas em Omã entraram no grupo. E logo ele estava repleto de mensagens de áudio e vídeos, alguns difíceis de assistir, que detalhavam as condições horríveis em que elas estavam vivendo.

Muitas tiveram seus passaportes retidos assim que chegaram, impedindo-as de ir embora.

Algumas mulheres contaram sobre como se fecharam em banheiros para enviar, em segredo, mensagens de pedido de ajuda.

"Sinto que estou na prisão... nunca conseguimos escapar", disse uma. "Minha vida realmente corre perigo", disse outra.