Milhares se despedem de Hebe de Bonafini na Praça de Maio, na Argentina

25/11/2022

Fonte: O globo Por AFP — Buenos Aires

COMPARTILHE

Histórica presidente da associação de mulheres, criada durante a última ditadura no país para descobrir o paradeiro de desaparecidos políticos, faleceu no domingo aos 93 anos

Milhares de pessoas se reuniram nesta quinta-feira em Buenos Aires para dizer adeus a Hebe de Bonafini, histórica presidente das Mães da Praça de Maio, falecida no domingo aos 93 anos. Suas cinzas foram espalhadas na famosa praça onde desde 1977 o grupo de mulheres clamava pelos desaparecidos da última ditadura argentina (1976-1983).

Vestidas com os lenços brancos que as tornaram mundialmente conhecidas, suas companheiras Visitación de Loyola, Josefa de Fiore, Irene de Chueque, Sara Mrad e Carmen Arias se encarregaram de espalhar as cinzas de Bonafini junto à Pirâmide de Maio, monumento ao redor do qual se manifestaram durante 45 anos, enquanto a multidão aplaudia e cantava: "Mães da praça, o povo te abraça".

— Eu tinha que estar aqui, como sempre estive. Conheço bem a vida dela. Durante a ditadura sofri a morte de um amigo que era como meu irmão — disse à AFP María Esther García, de 81 anos. — Mataram ele em casa, na frente dos três filhos. Acredito que a luta das Mães vai continuar, porque tem muita juventude no movimento de direitos humanos. Eles vão seguir o caminho, não vão abandonar. O que acontece é que a Hebe era essencial.

Líder histórica das Mães da Praça de Maio morreu aos 93 anos, na Argentina

Nascida em 4 de dezembro de 1928 em Ensenada, perto da cidade de La Plata, a cerca de 60 km de Buenos Aires, Hebe Pastor de Bonafini sofreu o desaparecimento em 1977 de dois de seus filhos, Jorge Omar e Raúl Alfredo, bem como de seu nora María Elena Bugnone Cepeda em 1978.

Junto com outras mulheres cujos filhos também desapareceram após serem sequestrados pelo regime militar, ela começou a se manifestar na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do governo, com marchas ao redor da Pirâmide onde suas cinzas foram deixadas nesta quinta-feira.

— Nossos filhos nos deram à luz — disse Bonafini em uma ocasião para explicar a formação de sua organização.

Na homenagem prestada nesta quinta-feira, a Praça de Maio foi enfeitada com fotos de Bonafini e mensagens, algumas manuscritas, que diziam: “Nós te amamos Hebe, mãe do povo” ou “Resistir é lutar, até sempre Hebe”.

— Para mim, Hebe é uma heroína, porque o que ela fez para procurar os desaparecidos é algo que poucas pessoas ousaram fazer — disse Virginia García, 42, membro do movimento social Barrios de Pie.

Figura polêmica na Argentina, Bonafini se caracterizou por suas posições políticas radicais e declarações viscerais, como quando disse por ocasião do atentado às Torres Gêmeas: "Não vou ser hipócrita com esse assunto. não me machucou em nada."

Nos últimos anos, ela foi acusada em um processo por suposto desvio de recursos públicos na Fundação Sonhos Compartilhados, criada para realizar projetos de habitação popular. A causa, aberta há mais de uma década, está estagnada.

Próxima dos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner, foi recebida com entusiasmo pelos principais líderes da esquerda latino-americana, como Fidel Castro, Hugo Chávez ou Evo Morales.