Ismail Haniyeh, chefe do Hamas, é assassinado no Irã
01/08/2024
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Segundo a Guarda Revolucionária do Irã e também o Hamas, Haniyeh e um de seus guarda-costas foram mortos em Teerã.
O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto em Teerã, no Irã, informou o grupo palestino em um comunicado nesta quarta-feira (31).
A Guarda Revolucionária do Irã também confirmou, em um comunicado, que o principal líder do Hamas e um de seus guarda-costas foram assassinados na manhã desta terça em Teerã e que está investigando o caso.
"A residência de Ismail Haniyeh, chefe do escritório político da Resistência Islâmica do Hamas, foi atingida em Teerã, e como resultado deste incidente, ele e um de seus guarda-costas foram martirizados," disse um comunicado da Guarda Revolucionária.
Segundo a TV estatal iraniana, ele foi morto às 2h de quarta, horário de Teerã (20h de terça em Brasília), enquanto estava numa residência de veteranos de guerra no norte da capital iraniana.
Os comunicados não dão detalhes sobre como o líder do Hamas foi morto e ninguém assumiu imediatamente a responsabilidade pelo assassinato.
Israel não comentou sobre o caso, porém, havia prometido matar Haniyeh e outros líderes do Hamas após o ataque do grupo em 7 de outubro, que matou 1.200 pessoas e viu cerca de 250 serem feitas reféns.
Em comunicado, o Hamas afirma que Haniyeh foi morto num "ataque aéreo traiçoeiro à sua residência em Teerã". Ele estava no Irã para participar da cerimônia de posse do presidente Masoud Pezeshkian.
"É um ato covarde que não ficará impune", disse a TV Al-Aqsa, controlada pelo Hamas, citando Moussa Abu Marzouk, alto funcionário do grupo.
Segundo canal de TV Al Mayadin, sediado em Beirute, capital do Líbano, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse que "é dever do Irã vingar o sangue de Haniyeh porque ele foi martirizado em nosso solo".
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, condenou veementemente o assassinato do líder do Hamas, informou a agência de notícias estatal WAFA.
Grupos palestinos convocaram uma greve geral e manifestações em massa após o assassinato de Haniyeh.
Em maio, Haniyeh teve a prisão pedida pelo procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra durante o conflito entre Israel e Hamas. Na ocasião, outros dois chefes do Hamas tiveram a prisão pedida, assim como o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e seu ministro da defesa, Yoav Gallant.
Não houve reação dos Estados Unidos. A administração de Joe Biden tenta pressionar o Hamas e Israel a concordarem com um cessar-fogo temporário e um acordo de libertação de reféns.
Quem é
Ismail Haniyeh, morto no Irã nesta quarta-feira (31), era uma espécie de diplomata internacional do grupo terrorista Hamas enquanto a guerra se desenrolava em Gaza, onde três de seus filhos foram mortos em um ataque aéreo israelense.
Mas, apesar da retórica, ele era visto por muitos diplomatas como um moderado em comparação com os membros mais radicais do grupo apoiado pelo Irã dentro de Gaza.
Nomeado para o cargo mais alto do Hamas em 2017, Haniyeh se deslocava entre a Turquia e a capital do Catar, Doha, escapando das restrições de viagem da Faixa de Gaza bloqueada e permitindo-lhe atuar como negociador nas negociações de cessar-fogo ou conversar com o aliado do Hamas, o Irã.
"Todos os acordos de normalização que vocês (estados árabes) assinaram com (Israel) não acabarão com este conflito", declarou Haniyeh na televisão Al Jazeera, sediada no Catar, logo após os combatentes do Hamas lançarem o ataque de 7 de outubro.
A resposta de Israel ao ataque tem sido uma ação militar que já matou mais de 35.000 pessoas dentro de Gaza até agora, de acordo com as autoridades de saúde do território, ligadas ao próprio Hamas.
Filhos mortos em ataque aéreo
Três dos filhos de Haniyeh --Hazem, Amir e Mohammad--- foram mortos em 10 de abril, quando um ataque aéreo israelense atingiu o carro em que estavam, disse o Hamas. Haniyeh também perdeu quatro de seus netos, três meninas e um menino, no ataque, disse o Hamas.
Haniyeh negou as alegações israelenses de que seus filhos eram combatentes do grupo e disse que "os interesses do povo palestino estão acima de tudo" quando questionado se a morte deles afetaria as negociações de trégua.
Apesar da linguagem dura em público, diplomatas e oficiais árabes o viam como relativamente pragmático em comparação com vozes mais radicais dentro de Gaza, onde a ala militar do Hamas planejou o ataque de 7 de outubro.
Enquanto dizia ao exército de Israel que eles se encontrariam "afundando nas areias de Gaza", ele e seu antecessor como líder do Hamas, Khaled Meshaal, viajavam pela região para negociações sobre um acordo de cessar-fogo mediado pelo Catar com Israel que incluiria a troca de reféns por palestinos nas prisões israelenses, bem como mais ajuda para Gaza.
Israel considera toda a liderança do Hamas como terroristas e acusou Haniyeh, Meshaal e outros de continuarem a "puxar as cordas da organização terrorista Hamas".
Mas quanto Haniyeh sabia sobre o ataque de 7 de outubro previamente não está claro. O plano, elaborado pelo conselho militar do Hamas em Gaza, era um segredo tão bem guardado que alguns oficiais do Hamas pareciam chocados com seu timing e escala.
Ainda assim, Haniyeh, um muçulmano sunita, teve um papel importante na construção da capacidade de combate do Hamas, em parte cultivando laços com o Irã xiita, que não esconde seu apoio ao grupo.
Durante a década em que Haniyeh foi o principal líder do Hamas em Gaza, Israel acusou sua equipe de liderança de ajudar a desviar ajuda humanitária para a ala militar do grupo. O Hamas negou.
Diplomacia
Quando ele deixou Gaza em 2017, Haniyeh foi sucedido por Yahya Sinwar, um linha-dura que passou mais de duas décadas em prisões israelenses e que Haniyeh havia recebido de volta a Gaza em 2011 após uma troca de prisioneiros.
"Haniyeh está liderando a batalha política do Hamas com governos árabes", disse Adeeb Ziadeh, especialista em assuntos palestinos na Universidade do Catar, antes de sua morte, acrescentando que ele tinha laços estreitos com figuras mais linha-dura no grupo e na ala militar.
"Ele é a frente política e diplomática do Hamas", disse Ziadeh.
Haniyeh e Meshaal se reuniram com oficiais no Egito, que também teve um papel de mediação nas negociações de cessar-fogo. Haniyeh viajou no início de novembro para Teerã para se encontrar com o líder supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, informou a mídia estatal iraniana.
Três altos oficiais disseram à Reuters que Khamenei havia dito ao líder do Hamas naquela reunião que o Irã não entraria na guerra sem ter sido informado com antecedência. O Hamas não respondeu a pedidos de comentário antes da Reuters publicar seu relatório, e depois negou tê-lo publicado.
No Hamas desde jovem
Quando jovem, Haniyeh era um ativista estudantil na Universidade Islâmica de Gaza. Ele se juntou ao Hamas quando foi criado na Primeira Intifada palestina (levante) em 1987. Ele foi preso e brevemente deportado.
Haniyeh tornou-se um protegido do fundador do Hamas, Sheikh Ahmad Yassin, que, assim como a família de Haniyeh, era um refugiado da vila de Al Jura, perto de Ashkelon. Em 1994, ele disse à Reuters que Yassin era um modelo para os jovens palestinos, dizendo: "Aprendemos com ele o amor ao Islã e o sacrifício por este Islã e a não se ajoelhar diante desses tiranos e déspotas."
Em 2003, ele era um auxiliar de confiança de Yassin, fotografado na casa de Yassin em Gaza segurando um telefone no ouvido do fundador quase completamente paralisado do Hamas para que ele pudesse participar de uma conversa. Yassin foi assassinado por Israel em 2004.
Haniyeh foi um dos primeiros defensores de que o Hamas entrasse na política. Em 1994, ele disse que formar um partido político "permitiria ao Hamas lidar com os desenvolvimentos emergentes".
Inicialmente, foi anulado pela liderança do Hamas, mas posteriormente foi aprovado e Haniyeh tornou-se primeiro-ministro palestino após o grupo vencer as eleições parlamentares palestinas em 2006, um ano após a retirada militar de Israel de Gaza.
O grupo tomou o controle de Gaza em 2007.
Em 2012, quando questionado por repórteres da Reuters se o Hamas havia abandonado a luta armada, Haniyeh respondeu "claro que não" e disse que a resistência continuaria "em todas as formas - resistência popular, política, diplomática e militar".
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