Elon Musk promete doar R$ 245 milhões por mês para campanha de Trump

17/07/2024

Fonte: Por O Globo, com agências internacionais — Washington, São Francisco e Los Angeles

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Bilionário destinará verba a grupo político que promove registros de eleitores

O bilionário Elon Musk anunciou que planeja destinar cerca de US$ 45 milhões mensais (cerca de R$ 245 milhões na cotação atual) para apoiar a campanha de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. A informação, publicada pelo jornal Wall Street Journal, acontece em um momento em que o empresário reforça cada vez mais sua campanha como apoiador de Trump, incluindo um movimento de quebra da tradicional imparcialidade das plataformas digitais em questões políticas.

As doações de Musk serão destinadas a um grupo político chamado America PAC, focado em promover o registro de eleitores, o voto antecipado e pelo correio entre os residentes dos estados decisivos antes das eleições de novembro, segundo o jornal. Musk é um dos maiores patrocinadores do novo fundo, que também conta com o cofundador da Palantir, Joe Lonsdale, a ex-embaixadora dos Estados Unidos no Canadá Kelly Craft, e os investidores em criptomoedas Tyler e Cameron Winklevoss.

O fundador da Tesla e dono do X externou seu apoio oficial a Trump no sábado, depois que o ex-presidente sobreviveu a uma tentativa de assassinato em um comício em Butler, Pensilvânia. Cerca de 30 minutos depois do atentado Musk declarou apoio ao republicano pela rede social.

“Eu apoio totalmente o presidente Trump e espero por sua rápida recuperação”, escreveu Musk no X, compartilhando um vídeo de Trump levantando o punho ainda no palco do comício. Em mais de 100 postagens após o atentado, Musk intensificou ainda mais seu discurso político. E na segunda-feira, depois que Trump anunciou que o senador J.D. Vance, de Ohio, seria seu companheiro de chapa republicano, Musk postou parabéns e disse que foi uma "excelente decisão" de Donald Trump.

Com essas medidas, Musk, de 53 anos, entrou em território desconhecido. Ele rompeu com a tradição estabelecida pelos líderes de outras grandes empresas de mídia social, nenhuma das quais apoiou um candidato presidencial. Ao usar o X como um megafone para sua opinião política – postando para seus quase 190 milhões de seguidores – Musk apagou qualquer ar de neutralidade da plataforma.

Agora, à medida que as eleições presidenciais se aproximam, o apoio total de Musk aos candidatos republicanos levanta questões sobre como os seus oponentes podem esperar ser tratados na plataforma.

— Ele pode moldar a plataforma à sua imagem — disse Gita Johar, professora da Columbia Business School que estuda o comportamento do consumidor. — Ele tem muitos seguidores e não esconde sua posição em relação a questões e política.

Musk também virou de cabeça para baixo a noção de que a indústria de tecnologia apoia candidatos democratas. Apesar de todas as reclamações de que as plataformas de redes sociais censuraram Trump e outros republicanos nos últimos anos, nenhum executivo sênior de uma das empresas expressou abertamente preferência por um candidato democrata.

Mark Zuckerberg, fundador da Meta, raramente posta sobre política, e Jack Dorsey, ex-chefe do Twitter, só se tornou mais franco sobre o assunto depois de deixar o cargo, há três anos. Satya Nadella, chefe da Microsoft, e Sundar Pichai, chefe do Google, também mantiveram silêncio sobre suas opiniões políticas nas respectivas plataformas sociais das empresas, LinkedIn e YouTube.

“Bilionários arrogantes que só pensam em si mesmos não são o que a América quer ou o que a América precisa”, disse James Singer, porta-voz da campanha de Biden, em um comunicado. “Elon sabe que Trump é um idiota que venderá a América.”

Embora muitos jornais há muito que apoiem candidatos políticos, a vasta escala das plataformas de redes sociais é semelhante à dos primórdios da televisão, quando os telespectadores estavam colados aos noticiários noturnos de algumas redes. E o impacto das plataformas nos consumidores — especialmente nos jovens — cresceu consideravelmente nos últimos anos, à medida que a indústria noticiosa tradicional encolheu.

— [Quando se trata de Musk e o X] está bastante claro quais são suas opiniões políticas, e agora as pessoas podem fazer uma escolha com mais transparência e informações sobre onde desejam passar seu tempo on-line — disse Sarah Kreps, diretora do Instituto de Política Tecnológica da Universidade Cornell.

Durante anos, Musk se absteve de compartilhar suas crenças políticas, em grande parte por causa de seu controle acionário na SpaceX, de acordo com três ex-executivos da empresa. A empresa de foguetes estava em competição acirrada com rivais para ganhar contratos espaciais governamentais.

Em novembro de 2016, dias antes da eleição presidencial, Gwynne Shotwell, presidente e diretora de operações da SpaceX, pressionou Musk a dar uma entrevista à CNBC, disseram as três pessoas. Durante a entrevista, ele deu um apoio morno a Hillary Clinton, dizendo que sentia que Trump “não era o cara certo”.

— Ele não parece ter o tipo de caráter que reflete bem nos Estados Unidos — disse Musk. As políticas econômicas e ambientais de Clinton foram descritas por ele como "as corretas".

A SpaceX recebeu US$ 14,7 bilhões (R$ 79,5 bilhões na cotação atual) em contratos federais de lançamento na última década, e o governo agora depende da empresa, aliviando grande parte da pressão política.

 

 

Em 2020, Musk disse que votou em Joe Biden. Dois anos depois, ele postou que as pessoas deveriam votar nos republicanos nas eleições de meio de mandato. E nos últimos meses, Musk tem aumentado constantemente suas críticas a Biden em postagens no X, atacando o presidente por tudo, desde sua idade até suas políticas de imigração e saúde.

Ao mesmo tempo, Musk estava cortejando Trump para retornar ao X. O site proibiu Trump após o motim no Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021. Musk restaurou a conta do ex-presidente logo após comprar o site no final de 2022. Desde então, porém, Trump postou apenas uma vez.

Desde a tentativa de assassinato contra Trump, o X tem sido inundado de teorias de conspiração e desinformação. No sábado, a palavra “encenado” virou tendência, enquanto os usuários debatiam se o ataque era uma invenção.

Musk, a pessoa mais seguida no site, acusou executivos rivais de tecnologia e a mídia de usarem linguagem inflamatória que contribuiu para o ataque. Ele disse que o Serviço Secreto mostrou "extrema incompetência" ou, numa acusação para a qual não há provas, deixou o ataque acontecer deliberadamente.

Ele respondeu e ampliou uma postagem de que Kimberly Cheatle, diretora do Serviço Secreto, havia se concentrado indevidamente em “contratações para diversidade”. Os relatos da direita têm defendido a teoria de que os esforços de diversidade, equidade e inclusão enfraqueceram a agência que protege os atuais e ex-presidentes, e que as mulheres não eram capazes de proteger Trump.

Musk disse que o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, cujo departamento supervisiona o Serviço Secreto, “deveria estar na prisão”.

O X tomará medidas contra postagens que espalhem desinformação ou elogiem o ataque, de acordo com um e-mail interno enviado no domingo e obtido pelo The Times.

“Em momentos como este, o mundo se volta para o X e temos a responsabilidade de proteger os diálogos que acontecem em nossa plataforma”, escreveu Linda Yaccarino, presidente-executiva da empresa.

Musk postou no domingo que o X era o lugar para encontrar a verdade, chamando a mídia tradicional de “pura máquina de propaganda”. Na segunda-feira, ele reconheceu a disseminação de informações incorretas pela plataforma ao atacar meios de comunicação, incluindo o New York Times e o Wall Street Journal.

“Quando algo está errado no X, é corrigido muito rapidamente, mas permanece errado por horas ou dias na mídia legada”, escreveu ele. (Com NYT e AFP)