Argentina reduz controle de câmbio, e peso despenca; bolsa sobe quase 5%
16/04/2025

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Governo de Javier Milei alterou o sistema de restrição que estava em vigor desde 2019 e adotou o câmbio flutuante. Títulos do Tesouro do país registraram fortes altas nesta segunda-feira, dia em que as mudanças passaram a valer.
O peso argentino despencou nesta segunda-feira (14), enquanto os mercados de ações e títulos do Tesouro registraram fortes altas. O pregão foi marcado pelo primeiro dia de redução dos controles cambiais, o chamado “cepo”. (entenda mais abaixo)
A flexibilização do cepo, anunciada na última sexta-feira (11) pelo banco central da Argentina, determina o fim da paridade fixa para a moeda argentina e introduz o "câmbio flutuante" — quando o valor da moeda é determinado pela oferta e demanda do mercado.
Com isso, o governo de Javier Milei ensaia o fim do sistema de restrição cambial que estava em vigor desde 2019, limitando a compra de dólares e outras moedas estrangeiras pelos argentinos.
Junto com a redução do controle cambial, foi anunciado que a Argentina fechou um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, o dinheiro permitirá a "recapitalização do BC para ter uma moeda mais saudável e continuar o processo de desinflação".
No primeiro dia útil após os anúncios, a moeda argentina se desvalorizou 11,38% em relação ao dólar. Mas o S&P Merval, índice que mede o desempenho das ações mais líquidas da Argentina, registrou alta de 4,70%.
Entenda abaixo o que se sabe sobre o acordo com o FMI e sobre a nova política cambial do país.
O que mexeu com os mercados argentinos nesta segunda-feira?
A desvalorização do peso argentino e a forte alta no mercado de ações e nos títulos públicos refletem as novas políticas de câmbio anunciadas pelo presidente da Argentina, Javier Milei, na semana passada.
O S&P Merval, índice que mede o desempenho das ações mais líquidas da Argentina, avançou 4,70%.
As principais empresas argentinas listadas nas bolsas americanas também tiveram forte alta no dia.
Veja o desempenho:
- YPF Sociedad Anonima subiu 10,26%
- Grupo Financiero Galicia SA ADR subiu 14,05%
- Grupo Supervielle SA subiu 18,07%
- Banco Macro SA B ADR subiu 15,41%
- BBVA Argentina subiu 14,78%
- Despegar.com (Decolar) teve leve recuo, de 0,05%
"A suspensão ou o levantamento de medidas como o 'cepo' cria um ambiente melhor para o mercado, sobretudo no médio e no longo prazo", diz André Galhardo, economista-chefe da consultoria Análise Econômica.
"Da mesma forma que o mercado entende que é melhor diminuir os gastos do governo e reduzir a presença do Estado na economia, isso vale também para controles cambiais", diz.
Enquanto isso, o peso se desvalorizou. Para cada dólar, passaram a ser necessários 1.196,31 pesos no fechamento desta segunda-feira. O valor representa uma alta de 11,38% em relação à última sexta-feira, quando o controle cambial do país estabelecia a moeda norte-americana a 1.074 pesos.
Segundo Galhardo, essa queda do peso é resultado de uma maior demanda por dólares. "Certamente, a retirada de parte das restrições atendeu a uma demanda reprimida pela moeda norte-americana", explica.
"Isso resultou em um desequilíbrio momentâneo entre oferta e demanda, encarecendo o dólar."
Qual é a nova política cambial da Argentina?
O novo regime de taxa de câmbio da Argentina acaba com o chamado "cepo" — uma série de restrições cambiais impostas pelo governo em 2019 para controlar a compra e venda de dólares.
Na época, o governo implementou a medida para limitar a compra de moeda e evitar a fuga de capitais para estabilizar a economia argentina, em meio a problemas nas contas públicas e alta dos preços.
Agora, a nova política cambial de Milei permitirá que o peso argentino flutue livremente entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar — a política anterior era de câmbio fixo. Na última sexta-feira, por exemplo, a moeda estava em torno de 1.074 pesos por dólar.
O governo argentino detalhou que a nova faixa móvel se expandirá em 1% a cada mês, tanto no limite superior quanto no inferior, e o BC poderá comprar e vender dólares se esse intervalo for quebrado.
O BC argentino também explicou que, enquanto a moeda flutuar dentro dos limites estabelecidos, a instituição poderá operar nos mercados secundários por meio de operações de mercado aberto — são operações realizadas para controlar a oferta da moeda e ajudar no controle da política monetária.
De acordo com o FMI, a ideia de restringir o controle de câmbio é fazer com que a estrutura monetária da Argentina evolua para uma "taxa de câmbio totalmente flexível no contexto de um sistema bimonetário" — em que o peso argentino e o dólar coexistem e podem ser usados simultaneamente.
Outro ponto anunciado pelo governo argentino foi o fim do chamado "grampo de dólar", que restringia o acesso à moeda estrangeira. A partir deste ano, as empresas poderão enviar lucros para fora do país, o que pode liberar mais investimentos de multinacionais.
Por que Milei implementou uma nova política cambial?
Segundo o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, a antiga política cambial "limitava o funcionamento normal da economia".
A ideia, segundo o governo, é que as novas medidas, somadas aos recursos cedidos pelo FMI, possam tornar a moeda mais saudável, reduzir a inflação e permitir cortes de impostos.
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