Voto ‘Luzema’ será mais um obstáculo para Bolsonaro em Minas Gerais

10/10/2022

O globo Por Marlen Couto

COMPARTILHE

Governador reeleito e petista venceram juntos em 436 municípios no estado; dobradinha com presidente ocorreu em 222 cidades

Os resultados das urnas no primeiro turno mostram o tamanho do desafio do governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em atuar nesta segunda etapa da eleição como puxador de votos para o presidente Jair Bolsonaro (PL). Levantamento feito pelo GLOBO, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revela que o político do Novo e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficaram em primeiro lugar no primeiro turno, simultaneamente, em 436 cidades do estado, contra 222 em que houve dobradinha do governador com Bolsonaro.

O comportamento dos eleitores nos municípios mineiros confirmou a tendência do voto “Luzema”, identificada nas pesquisas eleitorais antes do pleito. O levantamento mostra que, no grupo de cidades em que a vitória de Zema e Lula coincide, ambos tiveram ao mesmo tempo mais da metade dos votos válidos em 66% delas: 292 do total. Em 22 municípios, os percentuais dos dois candidatos ultrapassam a casa dos 60%.

A maior cidade com vitória simultânea de Zema e Lula com votação de ambos acima da metade dos votos válidos é Barbacena, que tem pouco mais de 130 mil habitantes. O petista teve 54% dos votos, enquanto o governador reeleito somou 56% do total. O padrão de votação em Lula, em Minas, é marcado pelo seu maior desempenho em cidades pequenas. Se na capital, Belo Horizonte, o petista ficou atrás de Bolsonaro e somou 42,5% dos votos, contra 46,6% do atual presidente, no interior o ex-presidente chegou a 49,1%, enquanto o candidato do PL teve 43,1% do total.

Minas e o efeito LuzemaAs cidades onde Lula e Zema ganharam ao mesmo tempo no estado. São 436 municípios no total

Lula/Zema

Lula/Kalil

Lula/Carlos Viana

Bolsonaro/Zema

Lula só venceu em quatro cidades com mais de 200 mil habitantes: Betim, Juiz de Fora, Montes Claros e Ribeirão das Neves. Já Bolsonaro teve maioria dos votos em cinco, entre elas Uberlândia e Contagem, segunda e terceira maiores cidades de Minas.

Saiba: Atrás nas pesquisas, Haddad tenta recuperar votos em berço do PT

Os estrategistas de Lula esperam frear o efeito do apoio de Zema a Bolsonaro, como mostrou O GLOBO, reunindo os chefes de municípios que compõem a base de apoio ao petista e atraindo aqueles que fizeram campanha no primeiro turno com a bandeira “Lula e Zema”. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) é visto pela campanha como o nome que pode fazer essa interlocução e já foi procurado por lulistas.

Transferência de votos

O cientista político e professor da PUC Minas Malco Camargos avalia que o resultado do primeiro turno no estado indica que não houve transferência de votos entre os candidatos a presidente e governador. Outro indício é a eleição de Cleitinho (PSC) para o Senado, candidato que não era da coligação de Zema nem de Alexandre Kalil (PSD).

— Foram apenas duas as eleições em que houve alinhamento entre os cargos: Dilma (Rousseff) e (Fernando) Pimentel (em 2014), e Bolsonaro e Zema (em 2018). Em outras eleições, tivemos o “Lulécio” (Lula e Aécio Neves), depois “Dilmasia” (Dilma e Antonio Anastasia). Minas tradicionalmente vota racionalmente, fazendo a hierarquia de candidatos independentemente do apoio ou da vontade das lideranças políticas — lembra Camargos. — Isso traz a seguinte questão: no segundo turno, o eleitor vai ouvir a liderança? Zema, no primeiro turno, não se mostrou um puxador de votos.