Tragédia no litoral de SP: sobe para 44 o número de mortos; mais de 40 estão desaparecidos

22/02/2023

Fonte: Por Leo Nicolini, André Catto, Fábio Titto, Thaís Matos e Mônica Mariotti, g1 Vale do Paraíba e região

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Buscas se concentram na costa sul de São Sebastião, cidade mais afetada pelo temporal que devastou a região. Bombeiros registraram novo deslizamento de terra em Juquehy, sem vítimas.

Equipes de resgate retomaram nesta terça-feira (21) a busca por vítimas após o temporal que devastou o Litoral Norte de São Paulo no fim de semana. Balanço do governo estadual aponta 44 mortes (43 em São Sebastião e uma em Ubatuba).

O número de desaparecidos não foi atualizado ainda, mas, mais cedo, estava em 49. Os trabalhos acontecem especialmente em bairros da costa sul da cidade de São Sebastião, como a Vila do Sahy, área que concentra a maioria das vítimas da tragédia. (Veja mapa mais abaixo.)

As buscas são feitas por bombeiros, agentes da Defesa Civil e os próprios moradores.

Em Juquehy, outro bairro bastante afetado pelas chuvas, o Corpo de Bombeiros registrou um novo deslizamento de terra de segunda para terça, mas sem registro de vítimas.

Além do trabalho de resgate, as equipes atuam para desobstruir o acesso por terra. Veja a situação das estradas na região:

Rio-Santos: o trecho até a Barra do Sahy está liberado. Entre os pontos interditados, há um ponto bloqueado totalmente na Praia Preta e outros nove com bloqueios parciais por causa de deslizamento de terra, entre eles, o trecho de Maresias.Mogi Bertioga:segue completamente bloqueada, com previsão de ao menos dois meses para liberação.Rodovia dos Tamoios (SP-99):principal rota alternativa entre o litoral norte de SP e São Paulo , está liberada.

Com a liberação da Rio-Santos até a Barra do Sahy e para aproveitar que a chuva parou momentaneamente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pediu que os turistas que desceram ao litoral para o carnaval deixem a região para aliviar a pressão nas áreas mais afetadas.

Os mercados chegaram a ter filas de clientes preocupados em estocar mantimentos. A previsão é de mais chuva nos próximos dias. (Veja a previsão do tempo mais abaixo.)

Na costa sul de São Sebastião, moradores ficaram ilhados e aguardam a chegada de doações e atendimento médico. Com os deslizamentos, muitas casas foram arrastadas e levadas pela terra. Muitos locais tiveram o abastecimento de água, luz e internet prejudicado.

O número de desalojados e desabrigados no litoral paulista não foi divulgado, mas, em todo o estado de São Paulo, o governo informou que há 1.730 desalojados (que precisaram deixar suas casas e foram para a residência de amigos ou parentes) e 766 desabrigados (que perderam as suas casas e não têm para onde ir) em decorrência das chuvas.

Por conta da situação das estradas e do fluxo intenso de veículos tentando deixar o litoral, os turistas têm enfrentado trânsito intenso. A repórter Mônica Mariotti conta que deixou Boiçucanga às 9h30. Em 30 minutos, conseguiu avançar apenas 300 metros. As ruas estão muito molhadas ainda e cheias de lama.

São Sebastião decreta calamidade pública — Foto: Divulgação/Defesa Civil de São Sebastião

Isolados, turistas têm gastado até R$ 30 mil por voo para deixar o local de helicóptero. O g1 registrou um desses resgates no heliponto próximo à Vila do Sahy, uma das mais atingidas.

Onde foi a tragédia no Litoral Norte de SP — Foto: Gabriel Wesley/Arte g1

Previsão de mais chuva

Nesta terça-feira, deve chover novamente em São Sebastião. Ao g1, o meteorologista Diego Souza, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) , informou que está mantida a condição de pancadas de chuvas no litoral, mas com menos intensidade para os próximos dois dias.

“Volumes iguais ao que observamos possivelmente não ocorrerão nos próximos dois dias, mas não podemos dar certeza ainda, porque continua a previsão de chuva local com volumes significativos.— Diego Souza, meteorologista do Cemaden

Nos próximos dias, deve chover em locais isoladosda Baixada Santista e do Litoral Norte de SP, com ventos e trovoadas.Entre terça e quarta-feira, a expectativa é que ocorram pancadas típicas de verão.Continua também a previsão de novos deslizamentos de terra, uma vez que os solos estão encharcados e qualquer nível de chuva pode contribuir para novas ocorrências.

Chuva anormal

De acordo com o meteorologista, nesta época do ano, chove mais mesmo, mas o volume foi anormal.

“O sistema de baixa pressão gera ventos intensos que ajudam a acumular água do oceano e dificultar escoamento dos rios. Tivemos também maior volume de maré, o que tornou mais difícil que a água escoasse de forma mais rápida para o oceano, contribuindo com os processos de inundação no litoral”, explicou Diego Souza.

Veja as principais informações sobre a tragédia:

No Litoral Norte, morreram ao menos44 pessoas, sendo 43 em São Sebastião e uma em Ubatuba, informaram as prefeituras.Uma das vítimas é uma menina de 7 anos que, na madrugada deste domingo, teve a casa destruída por uma pedra de duas toneladas em Ubatuba. Em São Sebastião, uma mulher de 35 anos morreu depois que a casa dela foi atingida por uma árvore.

Em São Sebastião, uma criança de 2 anos foi resgatada após ter ficado horas sob os escombros. Também na cidade, as equipes resgataram uma mulher em trabalho de partoque estava isolada — a mãe e o bebê ficaram bem.O prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), afirmou neste domingo que 50 casas desabaram na cidadee disse: "Cena assustadora".

Em todo o estado, são 1.730 desalojados e 766 desabrigados.O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, decretou estado de calamidade em Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Caraguatatuba, Ilhabelae Ubatuba.

Helicópteros da PM enfrentaram dificuldades para resgatar vítimas devido ao tempo fechado. O Exército enviou aeronaves para ajudar nos trabalhos. A operação de buscas em São Sebastião envolve mais de 600 pessoas.

Moradores tentam cortar troncos para terem acesso em São Sebastião — Foto: Bruno Tavares/TV Globo