‘Tivemos dificuldade para, no final, vender de nós para nós mesmos’, diz Guedes sobre cessão onerosa

07/11/2019

Ministro se diz 'apavorado' com ausência de estrangeiras e atribui resultado ao regime de partilha por Marcello Corrêa

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BRASÍLIA - O ministro da Economia , Paulo Guedes , atribuiu o resultado abaixo do esperado do megaleilão da cessão onerosa do pré-sal às dificuldades impostas pelo regime de partilha, modelo de licitação criado durante o governo do PT. Segundo ele, o baixo interesse de empresas estrangeiras — as áreas leiloadas foram levadas pela Petrobras — é uma mensagem de que o regime precisa mudar.

Nesta quinta-feira, das cinco áreas ofertadas, na 6ª Rodada de Partilha, apenas uma foi arrematada , a de Aram, na Bacia de Santos. Quem a levou foi a Petrobras, em parceria com a chinesa CNODC. Não houve propostas pelas demais.

— Estou apavorado é com o seguinte: os 17 gigantes mundiais não compareceram. Não vieram. A Petrobras levou sem ágio. Pagou zereta. Sumiu todo mundo da sala. Ficou só ela lá com o cartãozinho e disse: ‘Eu levo’. O que isso quer dizer? Que nós sabemos nos apropriar dos nossos recursos ou que nós não entendemos até agora a principal mensagem? É o seguinte: ‘Olha, vocês são muito complicados’ — disse o ministro nesta quinta-feira, durante evento no Tribunal de Contas da União (TCU). — Tivemos uma dificuldade enorme para, no final, vender de nós para nós mesmos.

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Petrobras 'não brinca de vender picolé em posto'

Apesar de lamentar o baixo interesse, o ministro destacou que o resultado do leilão fortaleceu a Petrobras.

— Dito isso, extraordinário o resultado. Foi o dobro de todos os outros da História. Nossa maior empresa tem um futuro brilhante. Quando anunciaram, o mercado começou a cair e no final começou a subir. Ela (Petrobras) está focada. Ela não está brincando de vender chiclete e picolé em posto de distribuição. Ela está focada em tirar petróleo do mar. Está com a maior fronteira do mundo na mão para ela explorar — disse o ministro.

O leilão da cessão onerosa arrecadou R$ 69,96 bilhões, valor inferior aos R$ 106,5 bilhões esperados pelo governo. Isso ocorreu porque não houve interesse por duas das quatro áreas ofertadas. As outras duas foram arrematadas pela Petrobras, uma delas em parceria com petroleiras chinesas.

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O certame foi realizado pelo regime de partilha, no qual o bônus de assinatura é fixo e a empresa vencedora é a que oferece um maior percentual de óleo-lucro à União. Nesse regime, a União é dono do Petróleo. Para Guedes, esse modelo é pior que o de concessão, usado em outras partes do mundo, que funciona como um leilão normal: a companhia que der o maior lance leva.

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— Temos que refletir sobre isso. Será que a concessão, que é usada no mundo inteiro, não é melhor que a partilha, que é usada por influência de alguns operadores franceses em regimes corruptos da África. Os caras não só quebraram tudo, não. Eles quebraram tudo e deixaram formas de fazer negócio bastante heterodoxa — afirmou o ministro, referindo-se aos governos do PT.