Pantanal tem 8.106 pontos de incêndio em setembro; ano já tem o maior número de focos da história

01/10/2020

Por G1 Natureza

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Mês é o pior em número de focos de incêndio desde 1998, quando começou o monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). Amazônia teve alta de 61% no número de focos em comparação a setembro de 2019.

O Pantanal teve, em setembro, 8.106 focos de incêndio, apontam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O mês passado foi o pior já registrado em número de focos de incêndio no bioma desde 1998, quando começou o monitoramento do instituto.

Três meses antes de terminar, 2020 também já é o ano com o maior número de focos de incêndio no Pantanal: de 1º de janeiro até 30 de setembro, foram 18.259 focos. Antes disso, o maior número havia sido registrado ao longo de todo o ano de 2005: 12.536. A alta é de cerca de 46% até agora (veja gráfico).

Queimadas anuais no Pantanal (2005-20)Alta em relação ao recorde anterior, de 2005, é de cerca de 46%12.53612.5363.1733.1739.8699.8694.5454.5455.7375.7378.0208.0203.5323.5327.4477.4473.3963.3961.5671.5674.4584.4585.1845.1845.7735.7731.6911.69110.02510.02518.25918.2592005200620072008200920102011201220132014201520162017201820192020 (até 30/09)05k10k15k20k2012
7.447
Fonte: Inpe

Alta na Amazônia

A Amazônia também teve alta no número de focos de incêndio: em setembro de 2019, foram 19.925 focos de calor; neste ano, o mesmo mês teve 32.017 focos, uma alta de 61%. O número ficou um pouco abaixo da média histórica para o mês, que é de 32.812 focos. A maior alta para o mês foi em 2007, com 73.141.

Focos de incêndio na Amazônia: setembro19.21419.21410.06210.06215.52815.52848.54948.54971.52271.52251.02851.02873.14173.14126.46926.46920.52720.52743.93343.93316.98716.98724.06724.06716.78616.78629.32629.32620.46020.46036.56936.56924.80324.80319.92519.92532.01732.017Número de focos no mês19981999200020012002200320042005200620072008200920102011201220132014201520162017201820192020020k40k60k80k2006
● Número de focos no mês: 51.028
Fonte: Inpe

Há, ainda, uma alta no total anual de focos de incêndio. De janeiro até 30 de setembro de 2019, haviam sido registrados 66.749 pontos de fogo na floresta. Neste ano, eram 76.030, aumento de 14%.

Focos de incêndio na Amazônia, janeiro a setembro (2015-20)58.73158.73156.79356.79370.89270.89246.96846.96866.74966.74976.03076.030201520162017201820192020020k40k60k80k2017
70.892
Fonte: Inpe

Até 31 de agosto, dado do Inpe mais recente disponível, o Brasil perdeu 53.019 km² de mata nativa da Amazônia e do Pantanal juntos. O número é equivalente a 34 cidades de São Paulo, ou quase a soma das áreas dos estados de Sergipe e Alagoas.

Embates com governo

Funcionários de uma fazenda são vistos próximos ao fogo em uma fazenda no Pantanal, em Poconé (MT) — Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Os dados do Inpe têm causado embates com o governo federal.

Na quarta-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro declarou, em um discurso gravado e apresentado na cúpula sobre biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU), que organizações, em parceria com “algumas ONGs", comandam "crimes ambientais" no Brasil e também no exterior. O presidente não apresentou provas para as afirmações.

No sábado (26), a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) publicou informações incorretas sobre as queimadas registradas no país em 2020 (veja vídeo).

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SECOM divulga informação incorreta sobre queimadas em 2020

A mensagem da secretaria dizia que a área queimada em todo o território nacional era a menor dos últimos 18 anos.

A afirmação, entretanto, desconsiderava um dado que aparecia na imagem postada pela própria Secom junto com a mensagem: os números de 2020 se referiam aos oito primeiros meses do ano – janeiro a agosto. Já os dados dos outros anos consideravam os doze meses.

Isso é importante porque a alta no número de focos de incêndio ocorre, justamente, no segundo semestre do ano – mais especificamente nos meses de agosto, setembro e outubro, com o pico em setembro.

Os dados usados pelo governo, que também são do Inpe, mostram que, de janeiro até agosto de 2020, a área total queimada no Brasil era de 121.318 km².

Se o mesmo período – de janeiro a agosto – for considerado nos outros anos, é possível ver que, neste ano, o Brasil teve uma área queimada maior que em 2008, 2009, 2011, 2013, 2014, 2015, 2017 e 2018.

Acusações

Investigações da Polícia Federal apontaram, no fim de setembro, que as queimadas no Pantanal de Mato Grosso do Sul começaram em grandes fazendas.

Antes disso, na terça (22), Bolsonaro disse em um discurso na Assembleia Geral da ONU que o Brasil era "vítima" de uma campanha "brutal" de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. O presidente disse que a floresta amazônica é úmida e só pega fogo nas bordas, e que os responsáveis pelas queimadas são “índios” e “caboclos”. A declaração, entretanto, é falsa, conforme apuração do G1 junto a especialistas no assunto.

ONGs, índios, Inpe, governadores, Di Caprio: veja quem já foi acusado por Bolsonaro de ligação com queimadas e desmatamento

No mesmo discurso, Bolsonaro disse, ainda, que "as grandes queimadas [no Pantanal] são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição". Essa afirmação, no entanto, também é falsa, conforme checagem do G1 com especialistas na questão.

Em meados de setembro, o vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou que "alguém" no instituto que faz "oposição" ao governo de Bolsonaro prioriza a divulgação de dados negativos sobre queimadas na Amazônia.

Mourão também disse que desconhecia que os dados das queimadas são públicos e pediu uma análise qualitativa ao instituto.

No dia 11, o vice-presidente declarou que o Inpe estava "se contradizendo" quanto aos dados de queimadas na Amazônia. A fala foi proferida após ele ser questionado sobre uma reportagem publicada pelo jornal "O Globo", que mostrava um aumento no número de queimadas de janeiro a 9 de setembro deste ano em comparação ao ano passado.

Em entrevista ao G1, Alberto Setzer, coordenador do programa de monitoramento de queimadas do Inpe, alertou que não há contradições e que são “períodos diferentes” sendo comparados. (Entenda detalhes neste link). Setembro, ele explica, é o mês em que a floresta mais queima.

“Setembro é o mês que mais tem focos. Temos que esperar o mês de setembro para poder dar uma análise um pouco mais sólida. Não adianta deixar o mês mais marcante de todos fora dos cálculos”, disse Setzer.