'Não foi nessa eleição, mas a gente vai ganhar', diz Boulos ao reconhecer derrota no 2° turno

29/11/2020

Por Marina Pinhoni e Paula Paiva Paulo, G1 SP — São Paulo

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Bruno Covas (PSDB) foi reeleito neste domingo (29) com 59,3% dos votos válidos. Em isolamento após ser diagnosticado com Covid-19, candidato do PSOL à Prefeitura de SP agradeceu apoio de eleitores e pediu esperança.

Guilherme Boulos, do PSOL, agradeceu na noite neste domingo (29) os votos que recebeu. Seu adversário Bruno Covas (PSDB) foi eleito com 59,3% dos votos válidos. Ainda durante o resultado parcial, Boulos ligou para o tucano para reconhecer a derrota.

"Eu fiz essa saída para agradecer, de coração, a cada uma, a cada um, que acreditou. A cada um, a cada uma que segue acreditando. A todos que semearam esperança, que semearam amor. A gente vai ganhar, a gente vai vencer. Não foi nessa eleição, mas a gente vai ganhar. Estamos juntos, obrigado", disse em breve pronunciamento ao lado da esposa em sua varanda.

Boulos está em isolamento em sua casa no bairro do Campo Limpo, na Zona Sul, após ter sido diagnosticado na sexta-feira (27) com Covid-19.

Campanha

No primeiro turno, Boulos disputou os votos da esquerda com Jilmar Tatto (PT), de quem depois recebeu apoio. O PT não apoiava um candidato de outra legenda no 2° turno desde 1988. Boulos também recebeu o apoio do PCdoB, PSTU, Rede, PDT e PSB. No entanto, Márcio França (PSB) declarou neutralidade.

Para tentar crescer, ele apostou na popularidade de sua vice. Ao fazer caminhadas na rua, o então candidato logo perguntava: "conhece a Erundina?". Prefeita de São Paulo de 1989 a 1992 pelo PT, Erundina teve sua trajetória exibida na campanha eleitoral. A campanha citou as 150 mil casas populares, a construção de seis hospitais e empreendimentos como o Sambódromo do Anhembi e o Vale do Anhangabaú.

O horário eleitoral do psolista também contou com a participação de políticos que já foram adversários em outras eleições: Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também pediu votos para Boulos na TV.

Boulos agradece apoio de eleitores na noite deste domingo (29) — Foto: Marcelo Brandt/G1

A campanha do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) recebeu ainda o apoio de artistas e celebridades como Wagner Moura, Caetano Veloso, Paulo Miklos, Camila Pitanga, Bruno Gagliasso, Fafá de Belém e o chef Olivier Anquier.

Com grande participação nas redes sociais, o financiamento coletivo e doações pela internet foram significativos na arrecadação de campanha de Guilherme Boulos. Até 13 de novembro, o valor arrecado por esta via era de R$ 757 mil – 20% do total.

Em meio à pandemia de Covid-19, a campanha eleitoral teve caminhadas, panfletagens e aglomerações. Boulos estava sempre de máscara, mas cumprimentou eleitores com apertos de mão, o que não é recomendado segundo as orientações de saúde.

Por fazer parte do grupo de risco para o coronavírus, Erundina, com 85 anos, não participou do corpo a corpo. A primeira aparição pública foi feita no final de outubro em um carro adaptado com uma proteção de acrílico, inspirada no “papamóvel”.

Na reta final da campanha, Boulos foi diagnosticado com a Covid-19, o que fez com que o debate que estava marcado para sexta-feira (27) na TV Globo fosse cancelado. Ele apresentou sintomas leves no sábado (28) e permanece em isolamento na sua casa.

Boulos diminuiu a diferença entre o adversário Bruno Covas nas últimas pesquisas de intenção de voto, mas seu crescimento não foi suficiente para derrotá-lo nas urnas.

Apoiadores de Guilherme Boulos (PSOL) aguardam resultado final da apuração em São Paulo na porta da casa do candidato, no bairro do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo. — Foto: Marcelo Brandt/G1

Origem em movimento de moradia

Coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e membro da direção do movimento de esquerda “Frente Povo Sem Medo”, Guilherme Boulos tem 38 anos e nasceu em São Paulo. Filósofo, professor, ativista e psicanalista, graduou-se em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), onde ingressou em 2000.

Especializou-se em Psicologia Clínica pela PUC/SP e também é mestre em psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP. Boulos foi professor da rede pública de ensino do estado de São Paulo, da Faculdade de Mauá e da Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Em 2018, Boulos também concorreu à Presidência da República pelo PSOL e obteve 617 mil votos, ou 0,58% do total de válidos no primeiro turno.