G20 discute meta para limitar aumento da temperatura a 1,5ºC, mas não fala em data para neutralidade de carbono
31/10/2021

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Líderes também concordaram em suspender financiamento a novos projetos de usinas a carvão no exterior já em 2021, segundo agencias.
Os líderes das 20 principais economias do planeta, o G20, debatem neste domingo (31), em Roma, medidas para conter as mudanças climáticas. Segundo fontes ligadas à AFP, AP e Reuters, o grupo acordou em limitar o aquecimento global a 1,5ºC e encerrar financiamentos públicos a novas usinas a carvão.
A meta de limitar o aumento da temperatura neste século a níveis "muito abaixo de 2°C" foi acordada em 2015, no Acordo de Paris. Agora, os líderes do G20 retomam a meta, mas não afirmaram quando ela deverá ser alcançada. Segundo a AFP e AP, o acordo diz apenas "por volta da metade do século".
Por outro lado, apesar de algumas potências do G20 ainda serem dependentes do carvão para geração de energia - como China e Índia -, o grupo defendeu a suspensão dos subsídios a novos projetos de usinas a carvão no exterior já para este ano.
"Vamos encerrar a concessão de financiamento público internacional para novas usinas a carvão até o final de 2021", indica o texto negociado durante a cúpula do G20 obtido pela AFP.
Porém, o documento não estabeleceu uma data para a eliminação da energia a carvão no mundo, prometendo fazê-lo "o mais rápido possível".
"O G20 deve assumir um compromisso especial para interromper a construção de novas usinas a carvão a partir deste ano e acabar com o subsídio aos combustíveis fósseis a partir de 2025", afirmou Friederike Röder, vice-presidente da ONG Global Citizen.
"Não passam de medidas obscuras em vez de ações concretas", disse Röder.
Os países do G20, que inclui Brasil, China, Índia, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, são responsáveis por 80% das emissões em todo o planeta de gases de efeito estufa.
Diferente das emissões nas grandes potências, no Brasil - que está isolado neste encontro da cúpula mesmo com a presença do presidente Jair Bolsonaro em Roma -, o grande vilão do clima não é a queima do carvão, mas o desmatamento e a pecuária.
Entenda:
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Zerar emissões de carbono
Os esforços para se alcançar a neutralidade de carbono foi outro tema acordado neste domingo.
Em 2019, A União Europeia se comprometeu a zerar o saldo de emissões de CO2 em 2050. Agora, contudo, o documento final do G20 diz que os planos nacionais sobre como reduzir as emissões de carbono serão fortalecidos "se necessário", e não faz nenhuma referência específica a 2050 como ano para atingir as emissões líquidas zero de carbono. A informação é da Reuters.
Este ano, especialistas climáticos das Nações Unidas alertaram que a meta de limitar a 1,5º C o aumento da temperatura na Terra deve ser alcançada para evitar uma aceleração dramática de eventos climáticos extremos, como secas, tempestades e inundações. Para isso, o painel climático da ONU recomendou que as emissões líquidas zero sejam alcançadas até 2050.
O G20 também não estabeleceu uma data para a eliminação gradual dos subsídios aos demais combustíveis fósseis em busca de energia limpa, dizendo, segundo a Reuters que se esforçarão para fazê-lo "no médio prazo".
Ainda neste último dia de cúpula, o s países do G20 reafirmam o compromisso, até agora não cumprido, de mobilizar 100 bilhões de dólares para os custos de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.
Bolsonaro isolado
O presidente Bolsonaro discursou no G20 durante almoço de líderes realizado no sábado (30). Os jornalistas ficaram de fora e as imagens não foram divulgadas, mas a assessoria do Palácio do Planalto publicou nas redes sociais a íntegra do discurso.
"Para o Brasil, os esforços do G20 deveriam concentrar-se no combate à atual pandemia, que continua a assolar muitos países. Entendemos, portanto, caber ao G20 esforços adicionais pela produção de vacinas, medicamentos e tratamentos nos países em desenvolvimento", declarou Bolsonaro.
Também no sábado, em uma das poucas trocas que teve com os demais líderes do G20, Bolsonaro afirmou em uma conversa breve com o presidente Recep Erdogan, da Turquia, que a Petrobras “é um problema”, reclamou da cobertura da imprensa e mentiu a respeito de seus índices de aprovação e da política para formação do seu ministério.
“Petrobras é um problema. Mas estamos quebrando monopólios, com uma reação muito grande. Há pouco tempo era uma empresa de partido político. Mudamos isso”, disse o presidente.
Neste domingo, Bolsonaro não participou do passeio dos líderes do G20, que tiraram uma foto na Fontana de Trevi, conhecido ponto turístico de Roma.
Também chamou a atenção da imprensa internacional o fato do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, ter cumprimentado muitos chefes de Estado e de governo com um aperto de mão, mas ter evitado apertar a mão de Bolsonaro, destacou a Radio France Internationale (RFI).
COP 26
A cúpula do G20 de dois dias serve para lançar as bases para a conferência climática da Organização das Nações Unidas, a COP 26, iniciada neste domingo em Glasgow, na Escócia.
"Se o G20 era um ensaio geral para a COP26, os líderes mundiais se equivocaram", declarou à AFP a diretora-geral do Greenpeace, Jennifer Morgan, para quem os líderes "não estiveram à altura do desafio".
Cerca de 190 nações do mundo participam da COP 26, que vai até 12 de novembro.
Após a última conferência do G20, marcada para às 16h deste domingo, a maioria dos líderes do G20 deverão seguir para Glasgow.
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