Com prazo para fechamento de lixões próximo, Brasil ainda enfrenta descarte inadequado; entenda impacto

06/06/2024

Fonte: Por g1 Por Profissão Repórter

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Em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu que os lixões deveriam ser fechados em 2014. O novo prazo termina em agosto deste ano.

Em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu que os lixões deveriam ser fechados em 2014. O prazo não foi cumprido e quatro novas datas foram determinadas de acordo com a quantidade de habitantes de cada município. A última data prevista é para agosto deste ano.

Profissão Repórter desta terça-feira (4) mostrou como o lixo descartado de forma irresponsável prejudica a vida das pessoas. Saiba mais abaixo:

 

O drama de catadores em lixão no Maranhão

No lixão de Coroatá, a 250km da capital São Luís, a equipe flagrou adultos e crianças catando materiais e até alimentos. Eles disputam a comida com urubus e cães que cercam o espaço. Veja no vídeo acima.

 

"A gente vê algumas características muitos claras do que é um lixão, que é a pior forma de destinação de resíduos sólidos que pode existir", destacou o especialista em gestão de resíduos sólidos, Carlos Silva Filho.

Profissão Repórter questionou o prefeito de Coroatá, Luis Mendes Ferreira sobre a situação do lixão testemunhada pela reportagem.

"A gente sabe que o lixão é uma dificuldade em todos os munícipios do Brasil, porque não se tem renda específica para investimento na melhoria dos lixões e administrar esses lixões junto com a fome, as necessidades que as pessoas têm no seu dia a dia, é muito difícil", relatou o prefeito de Coroatá. Luis Mendes ainda se comprometeu a instalar grades e vigias no local.

A equipe também seguiu o caminhão da coleta de Belém até Marituba, na região metropolitana, onde está o único aterro sanitário do Pará. Instalado em 2015, ele recebe lixos de Belém e outras cidades da região metropolitana. Por ano, cerca de 480 mil toneladas de resíduos são levados para lá.

Ao Profissão Repórter, moradores de comunidades vizinhas ao aterro sanitário disseram ser contra a instalação. O mototaxista, José Ailson Oliveira relatou que algumas pessoas chegaram a abandonar suas casas.

 

"Tudo irregular da forma que foi instalada. Vamos dizer, quase dentro da nossa residência. Os moradores abandonaram as suas casas porque não tem como", ressaltou o mototaxista, José Ailson Oliveira.

Caroline Marques é moradora há 26 anos de um bairro nas proximidades do aterro:

 

"Nossa água já não presta mais, poço que era a água que a gente usava, não presta mais", relatou a moradora.

 

Em 2022, o Ministério Público pediu que fossem realizados testes nas águas que poderiam ser afetadas pelo aterro sanitário. O parecer técnico do Instituto Evandro Chagas identificou a presença de arsênio, mercúrio e benzeno, que estão entre as 10 substâncias mais tóxicas listadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

"Os aterros sanitários não podem trazer nenhum impacto. A gente não pode encontrar, por exemplo, chorume do aterro sanitário vazando para um corpo d'água e contaminando a região", pontuou especialista em gestão de resíduos sólidos.

Rosana Rocha mora na região há 10 anos. Ela diz que são os dois filhos adolescentes que mais sofrem com a proximidade do aterro. "O odor muito forte dá falta de ar nele. Eu corro para o pronto-socorro e chega lá, aplicam uma medicação".

Rosana ganhou na Justiça uma ação que obriga a empresa de aterro sanitário e o governo a pagar aluguel para que sua família possa se mudar. No entanto, ela afirma que não recebeu os pagamentos.

 

"Só o que eu peço é que tirem os meus filhos daqui porque esse fedor é um tormento, não tem hora, nem dia. A gente se sente sufocado", disse a dona de casa.

 


Em nota, a empresa que administra o aterro sanitário de Marituba disse que nesta terça-feira (4), o Tribunal de Justiça do Pará suspendeu a obrigação de pagamento do aluguel. Segundo a nota, o desembargador compreendeu que não há comprovação de que as enfermidades tenham sido causadas pelo aterro sanitário.