Após pressão de Lula e queda da inflação, BC deve promover nesta semana 1º corte de juros em três anos
31/07/2023

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A expectativa de que a Selic comece a cair tem por base pesquisa realizada com mais de 100 instituições financeiras na semana passada e também indicações do próprio Banco Central - que deixou a "porta aberta" para a redução.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta terça-feira (1º) e na quarta (2) e deve promover a primeira redução nos juros básicos da economia brasileira em três anos.
A última queda da taxa aconteceu em agosto de 2020, quando, em meio à fase mais aguda da pandemia da Covid-19, a taxa Selic caiu de 2,5% para 2% ao ano (o nível mais baixo da história).
Desde então, veio subindo até atingir, em agosto do ano passado, o atual patamar de 13,75% ao ano - o maior em seis anos e meio.
A expectativa de que a Selic comece a cair tem por base pesquisa realizada com mais de 100 instituições financeiras na semana passada (os bancos veem um corte para 13,50% ao ano) e também indicações do próprio Banco Central - que deixou a "porta aberta" para a redução.
A projeção dos analistas do mercado financeiro é de que a taxa continuará recuando nos próximos meses, terminando o ano de 2023 em 12% ao ano. Para o fim de 2024, a projeção é de que Selic caia para 9,5% ao ano.
Além da queda da inflação, analistas apontam que o avanço de reformas no Congresso Nacional, como o andamento do arcabouço fiscal (a nova regra para as contas públicas) e a aprovação da reforma tributária sobre o consumo pela Câmara, reduziram as incertezas e pavimentaram o início do corte de juros.
Para Everton Gonçalves, da Associação Brasileira de Bancos, uma série de fatores tem beneficiado a dinâmica dos preços no Brasil, como o arrefecimento das pressões inflacionárias internas a redução das incertezas nas contas públicas - com a tramitação favorável do novo arcabouço no Congresso e as aprovações da Reforma Tributária e do voto de desempate do governo nas decisões do Carf na Câmara dos Deputados.
Críticas de Lula
O corte de corte dos juros básicos da economia, previsto para essa semana, acontece após críticas reiteradas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de integrantes da equipe econômica, ao atual patamar da taxa Selic.
O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi indicado para o cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e confirmado pelo Senado. Com a aprovação da autonomia do Banco Central, ele tem mandato até o fim de 2024.
A avaliação de Lula é que juros altos freiam o crescimento da economia e a geração de emprego e renda.
"Apenas o juro precisa baixar, porque também não tem explicação. O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim, porque eu já sei por que ele não baixa, mas ao povo brasileiro e ao Senado, por que ele não baixa [a taxa]", afirmou o presidente, em junho.
As críticas de Lula foram acompanhadas pela pressão feita por outros integrantes da equipe econômica nos últimos meses, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet.
O então secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo também reprovou a atuação do Banco Central. Este último foi indicado por Lula para a diretoria da instituição e já teve seu nome aprovado pelo Senado Federal. Ele participa da reunião do Copom da próxima semana.
Queda da inflação
A largada no ciclo de corte dos juros, indicado pelo próprio Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, também ocorrerá somente após a melhora da inflação.
Em maio, a inflação oficial desacelerou para 0,23% de alta. E, em junho, foi registrada deflação, ou seja, queda de preços, de 0,08%.
Com os preços mais comportados nos últimos meses, o mercado reduziu suas projeções para a alta de preços em 2023 e 2024 - que começaram a se aproximar das metas de inflação.
No debate público com o presidente Lula, autoridades do Banco Central têm lembrado que as decisões sobre a taxa básica de juros são tomadas com base no sistema de metas de inflação.
Ou seja, o BC define o nível da taxa Selic com base nas projeções de inflação considerando um prazo de 6 a 18 meses adiante - período que as decisões demoram para ter impacto pleno na economia.
Se as projeções de inflação dos próximos anos estão acima das metas, costuma subir ou manter a taxa estável (em patamar alto). Se as estimativas estão em linha com as metas, pode baixar a taxa de juros.
O argumento do Banco Central, divulgado por meio de seus documentos, é de que a desaceleração da atividade econômica, criticada por Lula e pela equipe econômica, "é necessária para garantir a convergência da inflação para suas metas, particularmente após período prolongado de inflação acima das metas".
Isso ocorre, na visão do BC, porque existia nos últimos meses "uma dinâmica inflacionária movida por excessos de demanda [procura], inicialmente em bens e que atualmente se deslocou para o setor de serviços".
Em abril, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, também chegou a argumentar que a taxa de juros é alta no Brasil por conta do atual nível de endividamento – considerado elevado para o padrão de países emergentes.
"Na parte dos juros, a gente não pode confundir causa e efeito. A dívida não e alta porque os juro é alto. É o contrário, o juro é alto porque a dívida é alta. Quando você endividado vai ao banco, e o banco faz uma análise que você é endividado e não paga a dívida, o juro é alto", declarou Campos Neto, naquele momento.
E por diversas vezes o BC cobrou o Ministério da Fazenda por uma melhora das contas públicas, com redução do déficit, principalmente por meio do corte de gastos, para possibilitar uma redução mais rápida da taxa Selic.
"É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal [contas públicas] e, infelizmente, nem bala de prata. Se não tiver as contas em dia, em perspectiva a gente não consegue melhorar", declarou Campos Neto, no Senado Federal, também em abril.
Apesar das cobranças, o presidente do Banco Central também elogiou o chamado arcabouço fiscal, a nova regra para as contas públicas, que passou pela Câmara e Senado Federal, mas que depende de nova votação dos deputados para entrar em vigor.