Quem pode usar o canabidiol distribuído em SP pelo SUS? Tire dúvidas sobre maconha medicinal

01/07/2024

Fonte: Por Poliana Casemiro, g1

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Entenda o que é o canabidiol, como ele age nas doenças indicadas pelo governo para o tratamento no SUS e quais as diferenças entre o uso medicinal e o recreativo.

São Paulo começa nesta semana a distribuir medicamentos à base de canabidiol (CBD), uma das substâncias extraídas de plantas do gênero Cannabis. Pacientes que têm três doenças específicas poderão ter acesso aos medicamentos de forma gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado.

CONTEXTO: O canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC) são duas substâncias extraídas de plantas do gênero cannabis que vêm sendo utilizadas com sucesso no tratamento de uma série de doenças. No gênero, as plantas mais conhecidas são a Cannabis Sativa e Cannabis Indica, ambas popularmente conhecidas como maconha.

Apesar de existirem medicamentos aprovados pela Agência Nacional Vigilância Sanitária (Anvisa) com as duas substâncias para diversas condições de saúde, o SUS em São Paulo vai distribuir apenas medicamentos à base de CBD e para três doenças:

  • síndrome de Dravet,
  • síndrome de Lennox-Gasteau e
  • complexo da esclerose tuberosa.

 

Abaixo, nesta reportagem, o g1 explica o que é o canabidiolcomo ele age nas doenças indicadas pelo governo para o tratamento no SUS, como a inclusão pode ajudar no tratamento e quais as diferenças entre o uso medicinal e o recreativo das substâncias derivadas da cannabis.

 

  1. O que é o canabidiol, o tetrahidrocanabinol e para o que são indicados?
  2. Por que o governo de São Paulo incluiu apenas para as três doenças?
  3. Qual a diferença do medicamento para a droga?
  4. O canabidiol dá barato ou vicia?
  5. Quanto custa o medicamento e como a distribuição no SUS ajuda no acesso ao tratamento?
  6. Isso muda as regras sobre a droga no estado?
  7. Como o estado vai garantir que apenas pacientes tenham acesso ao medicamento?

 

 

O que é o canabidiol, o tetrahidrocanabinol e para o que são indicados?

 

➡️ O canabidiol (CBD) é a substância responsável pelo efeito relaxante. Na indústria farmacêutica, ele funciona como anticonvulsivo e analgésico.

O médico neurologista e professor na faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) Renato Anghinah explica que há vários estudos que mostram a eficácia do medicamento no tratamento, principalmente, de casos de epilepsia.

➡️ O tetrahidrocanabinol (THC) age como estimulante e é a substância psicoativa na maconha. No Brasil, ele também é liberado para fins medicinais. Ele vem sendo indicado na forma de medicamento para o tratamento de pessoas que têm quadros de enrijecimento depois de derrame, acidente vascular cerebral (AVC) e traumas medulares.

Por que o governo de São Paulo lista apenas três doenças?

 

O governo de São Paulo incluiu na lista de doenças contempladas com o tratamento no SUS a síndrome de Dravet, síndrome de Lennox-Gasteau e complexo da esclerose tuberosa.

As síndromes são neurológicas, se manifestando já na primeira infância e tem como um dos sintomas a epilepsia refratária -- que não responde a tratamentos convencionais.

De acordo com o governo paulista, a decisão por contemplar apenas as três doenças é porque os estudos mais robustos que se tem sobre o efeito do canabidiol se restringem a esses casos.

"Os estudos existentes até o momento demonstram que o uso da substância é eficaz no tratamento dessas três doenças. Não existem evidências de que o canabidiol seja efetivo nas demais condições clínicas. Conforme os estudos científicos avancem e demonstrem a efetividade do medicamento, outras doenças podem ser adicionadas no rol das enfermidades".

 

O neurologista e professor da USP, Renato Anghinah, diz que há estudos que provam a eficácia em outros quadros, como em pessoas autistas na melhora da agitação psicomotora, casos de ansiedade, mas confirma que os indícios mais robustos disponíveis são mesmo para o controle da crise epilética nas três doenças citadas pelo estado.

Qual a diferença do extrato no medicamento e a droga?

 

A cannabis é o gênero da planta popularmente conhecida como maconha. Nela, há várias substâncias e entre elas as mais conhecidas são o CBD e o THC. Quando se trata do uso farmacêutico, ambos são retirados da planta em um processo em laboratorial.

➡️ O canabidiol, que é o extrato aprovado pelo governo paulista para a inclusão no SUS, é consumido em forma de goma, óleo e até de comprimido. Não há fumo no tratamento medicinal.

Às vezes, quando a gente fala sobre o tratamento com extratos de cannabis as pessoas acham que estamos falando de fumo de maconha, mas isso não existe. São medicamentos, com processos em laboratório, que não são consumidos com o fumo.

— Renato Anghinah, médico neurologista.

➡️ No caso do THC, que não está incluído na lista do governo, ele também é extraído em um processo em laboratório que permite a manipulação de concentrações. Para se ter uma ideia, a concentração dos medicamentos é de 0,2% da substância. No fumo, a concentração é de 15%.

“Embora haja algumas pessoas que achem que o canabidiol é do bem e o THC é do mal, não é bem assim. Existem formulações que combinam os dois para outras indicações, inclusive, aprovadas no Brasil. Por exemplo, para espasmo e dor em pacientes com esclerose múltipla. Essas substâncias apresentam efeitos distintos e o THC acaba com esse estigma porque é a substância consumida para fins recreativos”, explica José Alexandre Crippa, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto.

O canabidiol dá barato ou vicia?

 

José Alexandre Crippa, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto, explica que o canabidiol não tem efeito psicoativo. Ou seja, não é ele quem dá o efeito conhecido por quem usa a maconha como droga.

A planta cannabis tem mais de mil substâncias. A mais comum é o CBD que não dá barato, é o primo careta da maconha. As pessoas não fumam maconha por causa do canabidiol, mas por causa do THC.

— José Alexandre Crippa, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto

O médico Antonio Waldo Zuardi, também da USP e pioneiro nos estudos sobre o canabidiol, explica que, assim como não é o canabidiol que tem o efeito psicoativo, ele também não é capaz de gerar dependência.

“Não há qualquer estudo que tenha demonstrado dependência no uso de canabidiol”, pontua Antonio Waldo Zuardi.

Quanto custa o medicamento e como a distribuição no SUS ajuda no acesso ao tratamento?

 

No Brasil, há duas formas de conseguir o canabidiol:

 

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