Para as mulheres, o estresse aumentou e o estigma associado a distúrbios mentais está mais forte do que nunca, diz pesquisa

21/05/2024

Fonte: Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro

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Quarta edição de levantamento feito por consultoria mostra que menopausa e menstruação afetam mão de obra feminina e não há acolhimento por parte das empresas

Aproveitando que hoje é Dia das Mães, escrevo sobre a quarta edição da pesquisa “Mulheres no trabalho 2024” (“Women @ Work 2024”), realizada pela empresa global de consultoria Deloitte.

Iniciada em 2021, nas duas primeiras edições o levantamento retratou os efeitos da Covid-19 no cenário da mão de obra feminina, que sofreu em duas frentes: ou foi simplesmente excluída, numa onda sem precedentes de demissões, ou teve que se desdobrar somando atribuições profissionais às domésticas. Foram entrevistadas cinco mil mulheres em dez países – entre eles, o Brasil – de outubro de 2023 a janeiro de 2024.

Vindas de sete setores diferentes, 68% eram heterossexuais; 31% preferiram não revelar sua orientação sexual; e 2% eram lésbicas ou bissexuais. Na pesquisa atual, a questão da saúde mental ganha uma dimensão muito maior. Aqui vão os principais pontos:

  1. As mulheres estão mais estressadas, o estigma associado a distúrbios emocionais ou mentais está mais forte do que nunca e as longas jornadas de trabalho têm impactado fortemente a qualidade de vida. Metade relata estar vivendo um nível mais alto de estresse do que no ano anterior, e a mesma quantidade afirma estar preocupada com sua saúde mental. Dois terços não se sentem confortáveis de tratar do assunto no ambiente profissional: temem ser discriminadas ou demitidas.
  2. Trabalhar sentindo dor ou desconforto é uma realidade para 27% das mulheres. Mais de 40% das que padecem durante o período menstrual não usufruem de qualquer folga ou licença. Entre as que enfrentam problemas ligados à menopausa, 39% também não mudam sua rotina profissional – a porcentagem dobrou em relação à pesquisa do ano anterior. Pior: a carreira foi afetada negativamente quando temas relacionados à menopausa vieram à tona. Falta de acolhimento é, igualmente, o sentimento daquelas vivendo desafios relativos à concepção: dificuldade para engravidar, gravidez de alto risco ou aborto espontâneo.
  3. Metade das que têm parceiros e filhos fica com a maior parte da responsabilidade pelos cuidados com as crianças. Quase 60% das que se tornaram cuidadoras familiares (de pais ou sogros, por exemplo) estão em situação semelhante. Um quinto das entrevistadas é a principal provedora da casa, mas, nesse grupo, quase 50% acumulam a atividade profissional com as tarefas domésticas. Apenas 19% afirmaram que os parceiros assumiram tais atribuições.
  4. Embora a falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal seja uma das questões mais recorrentes para todas, 95% acreditam que abordar o assunto comprometeria suas chances de conseguir uma promoção. O trabalho híbrido tem a vantagem da flexibilidade de horários, mas três em cada dez mulheres dizem que têm sido excluídas de reuniões e sua visibilidade na empresa diminuiu.
  5. O número de mulheres vítimas de assédio ou microagressões no trabalho é menor, mas 43% ainda experimentaram esse tipo de abuso – 25% ouviram comentários inapropriados de pessoas em posições de chefia. Elas continuam preferindo se calar: um terço das que sofreram assédio não fez qualquer denúncia. O que há para comemorar? Não desistiremos.