Confira os medicamentos mais falsificados no Brasil e veja como se proteger; novela Três Graças faz alerta
17/11/2025

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Em países de baixa e média renda, estima-se que 1 em cada 10 produtos médicos em circulação seja falsificado ou de qualidade inferior.
Adquirir remédios falsificados e ver o quadro de saúde só piorar pode parecer uma situação vista mais na ficção, como no enredo da novela Três Graças. Mas em países de baixa e média renda, 1 em cada 10 produtos médicos em circulação é falsificado ou subpadronizado (de qualidade inferior), de acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Como o Brasil é um país de média-alta renda, de acordo com o Banco Mundial, essa estatística não se aplica a nós e não há um ranking de falsificação global. Ainda assim, o tema preocupa órgãos de saúde brasileiros, principalmente quando se trata de medicamentos vendidos pela internet.
Na novela das 21h, a personagem Lígia, vivida por Dira Paes, sofre de uma doença rara chamada hipertensão arterial pulmonar (HAP) e toma medicamentos distribuídos gratuitamente pela Fundação Ferette, comandada por Murilo Benício.
O vilão recebe de laboratórios a doação de remédios verdadeiros, mas os substitui por placebos feitos de farinha, produzidos numa fábrica clandestina que ele mesmo monta. Já os remédios verdadeiros são revendidos no mercado paralelo, por um valor abaixo da tabela e com pagamento em dinheiro vivo.
No Brasil da vida real, produtos mais caros, como canetas emagrecedoras, toxina botulínica e remédios para câncer, estão entre os mais frequentemente encontrados na lista de medicamentos falsificados, segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF). Além da falsificação, muitas vezes, esses produtos também são importados irregularmente ou são objeto de roubo.
Ao ingerir medicamentos falsificados, o paciente – além de não melhorar - pode ter uma piora do quadro de saúde, sofrer intoxicação, interações medicamentosas não esperadas e diversas alterações no organismo, como da pressão arterial e dos níveis de glicose.
Já produtos verdadeiros que foram roubados têm a eficácia comprometida quando não são armazenados de forma correta.
Especialistas alertam que o consumidor deve desconfiar de preços muito abaixo dos praticados no mercado, de embalagens adulteradas e com erros de grafia e sem a chamada ‘raspadinha’ – um retângulo branco que, quando raspado com objeto metálico, evidencia a logo do fabricante.
Além disso, a legislação impede que uma farmácia seja 100% remota. Ou seja: toda farmácia, seja convencional ou de manipulação, precisa ter um estabelecimento físico e aberto ao público, mesmo que venda também pela internet.
A indústria farmacêutica alega que as farmácias de manipulação têm fiscalizações menos rigorosas que as convencionais. Já o setor de farmácias de manipulação destaca que cumpre uma série de regulamentos. A Anvisa informou o g1 que as análises de controle de qualidade de medicamentos são focadas em produtos produzidos em série – de farmácias convencionais - e que que a produtos manipulados são monitorados pelas vigilâncias sanitária locais.
Abaixo, nesta reportagem, você vai ver:
- Os medicamentos mais falsificados atualmente no Brasil
- Como saber se um medicamento é original
- Como verificar se uma farmácia convencional é regularizada
- O perfil das farmácias irregulares
- Dicas de como escolher uma farmácia de manipulação
- Como denunciar
- Os desafios para o setor e as autoridades
- O mercado farmacêutico em números
- O papel do farmacêutico no combate à falsificação
Estima-se que os países gastem US$ 30,5 bilhões por ano com produtos médicos subpadronizados e falsificados. Esses produtos são frequentemente vendidos online ou em mercados informais.
Segundo a ONU, populações vulneráveis, países sem proteção social e nações com sistemas de saúde frágeis são mais sujeitos ao risco, mas o problema é global. Nenhuma região está imune e tanto países desenvolvidos quanto em desenvolvimento enfrentam suas consequências devastadoras.
Atualmente há mais de 94,7 mil farmácias convencionais no país, segundo dados da IQVIA e Close-Up International, dois institutos de auditoria do mercado. Já as farmácias de manipulação somam cerca de 8 mil. O país ocupa a oitava posição mundial em consumo de medicamentos, de acordo com dados da IQVIA de 2024.
“Compre seu medicamento na farmácia que você conhece. Não compre remédio em barraca, em feira livre, na porta do metrô. E se o valor estiver barato demais, desconfie”, alerta o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini.
O aumento recente de roubos de canetas emagrecedoras em farmácias tem feito muitos estabelecimentos reduzirem os estoques. Assim, o paciente tem passado a comprar mais no site da farmácia antes de ir buscar pessoalmente, ou pedir para receber em casa.
Além disso, o porta-voz do Sindusfarma destaca que medicamentos de tarja vermelha devem ser adquiridos somente com receita de um profissional de saúde. “Um remédio com a dosagem errada pode fazer mal. Hoje é muito fácil obter uma receita porque há a teleconsulta”, acrescenta.
1.Os medicamentos mais falsificados atualmente no Brasil
De acordo com o CFF, em 2025, os medicamentos mais frequentemente encontrados na lista de medicamentos falsificados até o momento, de empresas desconhecidas, foram:
- Botox: marca de toxina botulínica usada para amenizar linhas de expressão)
- Dysport: marca de toxina botulínica tipo A)
- Mounjaro: tirzepatida, que age como análogo do hormônio GLP-1
- Keytruda: medicamento injetável usado para tratar vários tipos de câncer, incluindo melanoma, câncer de pulmão, de estômago, de cabeça e pescoço, de células renais, câncer cervical, câncer colorretal e linfoma de Hodgkin.
- Opdivo: medicamento injetável usado para tratar vários tipos de câncer, assim como o Keytruda.
- Durateston: propionato de testosterona (hormônio masculino)
- Oppy: analgésico opiáceo forte, de tarja preta, utilizado para alívio de dor intensa.
- Cloridrato de fluoxetina: indicado para o tratamento da depressão, associada ou não a ansiedade, da bulimia nervosa, do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e do transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), incluindo tensão pré-menstrual (TPM), irritabilidade e disforia.
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Nelson Mussolini explica que as farmácias de manipulação não fazem as canetas emagrecedoras, mas fazem a injeção e usam as marcas da indústria, que são propriedade intelectual.
“Você encontra de tudo. Se procurar pelo nome da marca da caneta, acrescentando a palavra ‘manipulado’ ou ‘em comprimido’, aparecem inúmeros anúncios. Eles mudam a fórmula do produto e usam uma fórmula farmacêutica que não é registrada na Anvisa”, alerta Mussolini.
2.Como saber se um medicamento é original
As embalagens de medicamentos regularizados possuem um lacre ou selo de segurança, que, ao ser riscado com um objeto metálico, expõe a logomarca do fabricante.
Segundo a Abrafarma, é muito difícil perceber casos de falsificação, pois a cópia é “muito profissional, com quase nenhuma diferença na embalagem, por exemplo”. Para saber mesmo sobre o conteúdo real, é necessário submeter o item a testes em laboratórios especializados, o que leva meses, diz Barreto.
Segundo o CFF, entre os sinais que indicam que um medicamento pode ser ilegal ou irregular, estão:
- Ausência de registro ou notificação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na embalagem, há o número de registro composto por 13 dígitos. Além disso, pode-se realizar a consulta do medicamento na página eletrônica da Anvisa;
- Indisponibilidade em farmácias, serviços de farmácia hospitalar ou outras unidades do sistema nacional de saúde;
- Venda por canais não autorizados, como ambulantes, feiras, sites eletrônicos não autorizados ou farmácias não regulamentadas;
- Embalagens adulteradas, erros de impressão, ortografia incorreta, cores diferentes das originais;
- Ausência de selo de segurança (pequena tarja pintada de branco), que, ao ser riscado com um objeto metálico, expõe a logomarca do fabricante.
- Ausência de informações obrigatórias, como validade, lote e registro na Anvisa;
- Lacres violados ou inexistentes;
- Desvios de qualidade (alterações de aspecto, cor, odor, sabor ou volume);
























