Como lidar com relacionamentos familiares pouco saudáveis

08/07/2024

Fonte: Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro

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Em livro, terapeuta norte-americana ensina a sair do “estado de contemplação” e impor limites

A terapeuta norte-americana Nedra Glover Tawwab é uma autora best-seller com quase dois milhões de seguidores nas redes sociais. Seu mais recente livro, “Consider this” (“Considere isso”), estará disponível em outubro com uma seleção de reflexões para manter o equilíbrio nesses tempos tão conturbados. Por aqui, acaba de ser lançado “Sem drama: um guia para gerir relacionamentos familiares pouco saudáveis”, com uma dedicatória que dá o tom da obra: “nós somos a resposta, e não as pessoas que não podemos controlar”.

“Precisar de outras pessoas é saudável, já emaranhar-se é não haver separação entre você e os outros, é se esquecer de quem você é”, afirma. Exemplo? O irmão perde o emprego e você se oferece para pagar o aluguel. Ou seja, organiza a bagunça alheia e negligencia a própria vida.

O livro é dividido em três partes: a primeira mostra como identificar a disfunção familiar. A segunda é sobre a cura: como administrar relacionamentos (ou até romper os laços) com gente que não muda. A terceira aponta formas de solucionar conflitos com pais, irmãos e filhos. Tawwab utiliza casos de pacientes na abertura dos capítulos e, no fecho de cada um, propõe “exercícios” para o leitor. Ensina que família disfuncional é aquela na qual abusos, desordem e negligência são normas aceitas, e comportamentos nocivos são ignorados e vistos com permissividade – o tipo de ambiente onde se age como se nada houvesse acontecido, esconde-se um problema para que não seja descoberto e segredos que nem deveriam existir são guardados.

 

“Mudar a si mesmo é a única coisa possível. Reenquadrar-se, reajustar suas expectativas, impor limites e cuidar de si mesmo serão, em última análise, a sua libertação daquilo que você não pode controlar”, é seu mantra. O ambiente familiar tóxico é capaz de dar origem a questões de saúde mental como ansiedade, síndrome do impostor, autossabotagem, dificuldade para comunicar necessidades e sentimentos, para confiar ou assumir compromissos, completa.

 

A terapeuta reconhece que é difícil mudar e escreve que, sempre que um paciente lhe pede ajuda para lidar com um problema familiar, sabe que ele está se esforçando “para lidar com algo intolerável. Tentar conviver com comportamentos pouco saudáveis resulta em ressentimentos, não em mais tolerância”. Na sua opinião, quando não é tratado, o trauma pode ter efeito duradouro e ser passado de geração em geração, levando a abuso de substâncias, sexo de risco, violência doméstica, relações tóxicas, distúrbios alimentares e de sono, entre outros.

Chama de “quebrador de ciclo” quem rompe de forma intencional o padrão de disfunção familiar. “Essa pessoa talvez enfrente represálias por estar desafiando as normas”, diz. Recriminações e frases do tipo: “Você acha que é melhor que nós?” são para provocar culpa em quem questiona e quer impor limites, vistos como uma ameaça a esse ecossistema desequilibrado. OLHO

Tawwab enumera cinco estágios de consciência e ação:

 

  1. Pré-contemplação: você disfarça os problemas, arranja desculpas e não tem consciência da situação.
  2. Contemplação: início de ponderações sobre o valor de mudanças, acompanhadas de sentimentos conflitantes e culpa.
  3. Preparação: tentativas de convencer o outro a mudar, exploração de pequenas mudanças.
  4. Ação: mudanças sendo postas em prática, sem querer mudar a outra pessoa.
  5. Manutenção: mudanças consistentes, os sentimentos não guiam mais os parâmetros do que é aceitável.

 

Ressalta que abusos e maus-tratos não são um comportamento saudável, não importa o papel que a pessoa tenha em sua vida. A autora enfatiza que, às vezes, estar na posição de vítima pode ser mais confortável do que assumir o controle, por isso sugere:

 

  • Não arranje desculpas para coisas que você pode controlar.
  • Decida seguir em frente apesar do que aconteceu.
  • Supere ressentimentos.
  • Reconheça que não é perfeito.
  • Pratique a assertividade.
  • Pare de se comparar com os outros.
  • Encontre maneiras de cuidar melhor de si mesmo.
  • Entenda seus sentimentos e aprenda a expressá-los.
  • Minimize a autocomiseração, ela vai fazer com que fique estagnado.
  • Identifique o que pode controlar e aceite o poder que tem.