Atriz norte-americana de 67 anos conta como superou a bipolaridade e um grave acidente

27/05/2024

Fonte: Por g1 Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro

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Jenifer Lewis foi a principal convidada do 7º. Encontro Anual de Conscientização sobre a Saúde Mental dos Idosos.

Como escrevi na coluna de terça, maio é o mês dedicado às pessoas mais velhas nos EUA. Assisti ao 7º. Encontro Anual de Conscientização sobre a Saúde Mental dos Idosos, no qual a principal atração foi a atriz e cantora Jenifer Lewis. Aos 67 anos, além de participar de diversos espetáculos musicais, ela se tornou conhecida pela série “Black-ish”, que se estendeu por oito temporadas, de 2014 a 2022. Acima de tudo, é uma sobrevivente, que conviveu décadas com um quadro de bipolaridade não diagnosticada e sofreu um gravíssimo acidente, que vai completar dois anos, numa viagem à África. Seu depoimento foi uma aula de força e superação:

“Fui criada num ambiente com todas as disfunções sociais possíveis, o que incluiu ser molestada sexualmente. Aos 26 anos, minha mãe tinha sete filhos, e eu era a caçula. Precisei de muita terapia para aprender a perdoar, para entender que ela não tinha condições de me dar a atenção e o cuidado de que eu necessitava”, contou.

 

Lewis lembrou que desenvolveu um comportamento de compulsão por sexo e que não tinha ideia de ser bipolar: “na Broadway, minha euforia, o fato de estar sempre elétrica, ligada na tomada, parecia funcionar profissionalmente”. O diagnóstico só veio em 1990, quando o showbusiness foi convulsionado pela epidemia de Aids:

 

“Duzentos amigos ou conhecidos morreram num curto espaço de tempo. Quebrei por dentro, mas levei a sério o tratamento. Não deixava de tomar meus medicamentos, passei a escrever um diário, para registrar meus sentimentos, e a fazer meditação. Vieram anos de tranquilidade, até cair de uma altura de 30 metros, do balcão de um hotel na região do Serengueti. Foi o momento de maior medo na vida. E desaprendi a andar”.

 

Em novembro de 2022, depois do fim da série “Black-ish”, se deu de presente uma sonhada viagem à África. Ao chegar no hotel, já havia anoitecido e resolveu andar na varanda, que tinha uma piscina com borda infinita. Só que, na noite fechada da savana, não percebeu que não havia proteção na lateral e despencou num barranco, num lugar onde animais selvagens circulam livremente. Ainda conseguiu gritar por socorro e a amiga que estava no quarto ao lado pediu ajuda. Sofreu uma fratura grave no quadril e passou 16 dias hospitalizada em Nairóbi, no Quênia.

O ano de 2023 foi todo dedicado à recuperação – e Lewis enfrentou uma depressão severa. No entanto, é difícil derrubá-la. Está finalizando seu terceiro livro, cujo título, “Get up!” (“Levante-se!”), mostra seu estado de espírito: “ninguém vai nos resgatar. É preciso olhar no espelho e descobrir que somos nós que faremos isso”.

 

No evento, também foram apresentados dados compilados pela Substance Abuse and Mental Health Services Administration (Administração de Serviços de Abuso de Substâncias e Serviços de Saúde Mental), agência governamental responsável pelas políticas públicas da área:

 

  • Quase 13% das pessoas acima dos 60 bebem excessivamente, o que equivale a dez milhões de norte-americanos. O consumo de álcool elevado é considerado episódico quando um homem bebe pelo menos cinco drinques numa mesma ocasião (para as mulheres, são quatro doses), mas se torna abusivo se tal comportamento se repete por cinco ou mais dias num mês.
  • Cerca de 9.5 milhões consumiram drogas ilícitas no último ano: maconha, cocaína, heroína, alucinógenos, metanfetaminas, entre outros. O abuso de medicamentos se enquadra nessa categoria.
  • Estima-se que 9.8 milhões de idosos sejam portadores de alguma doença mental, sendo que 1.5 milhão apresentam uma condição grave de enfermidade.