Xuxa Meneghel brinca sobre a chegada aos 60 anos: 'Cabeça, ombro, joelho e pé, dói tudo!'
27/03/2023
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A eterna Rainha dos Baixinhos fala sobre os efeitos físicos e emocionais da passagem do tempo e celebra o amor de Junno: ‘Quando eu me olho no espelho e lamento ‘nossa, tá ruim’, ele passa e fala: ‘Oi, gostosa!’. Aí o mundo fica diferente, mais colorido’
Nesta segunda-feira, dia 27, ela chega aos 60 anos e não está nem aí para aposentadoria. Xuxa Meneghel vem emendando projetos e exibe com orgulho a agenda cheia para este 2023, estendendo estreias para o próximo ano, quiçá os seguintes. Além das homenagens e entrevistas que já têm sido exibidas, por causa da efeméride, em programas de TV — como o “Altas horas”, na Globo, o “Saia justa” e o “Que história é essa, Porchat?”, no GNT, e o especial “Xou da Xuxa”, no Viva —, vêm aí o reality “Caravana das drags”, no Amazon Prime Video; “Xuxa, o documentário”, com direção de Pedro Bial, no Globoplay; a série “Tarã”, no Disney+; o filme infantojuvenil “Uma fada veio me visitar”, com roteiro de Thalita Rebouças, nos cinemas; e a série “Rainha”, que deve chegar em 2024 também ao Globoplay.
Em meio a esse mar de acontecimentos e celebrações pelas bodas de diamante consigo mesma, está o Navio da Xuxa, cujo show a bordo será transmitido ao vivo, a partir das 21h desta segunda-feira, pelo Multishow — o canal vai ter programação especial toda dedicada à aniversariante neste 27 de março.
— Vou usar esse cruzeiro como termômetro pra medir a vontade das pessoas de terem esse show nas cidades delas. Se acontecer, eu quero fazer uma turnê em dez lugares do Brasil e terminar na Argentina — anuncia a inquieta e eterna Rainha dos Baixinhos, que nesta entrevista exclusiva ao EXTRA fala sobre a nova fase da vida e sobre o império construído.
Quais são a maior dor e a melhor delícia de ser Maria da Graça Xuxa Meneghel aos 60 anos de idade?
Eu acho que a maior dor por ser eu, Xuxa, desde que nasci, foi perder a minha liberdade quando tive que fazer tudo e tanta coisa boa na televisão. E a maior delícia é ser filha da Aldinha e poder receber o carinho do melhor público que existe no mundo, que são as crianças.
Quais presentes, um material e um imaterial, gostaria de ganhar neste 27 de março?
Sou a pessoa mais fácil para se dar presente. Amo tudo que tem cheiro bom. Falando sério mesmo: se me dão um sabonete ou um creme com cheiro gostoso, eu fico toda feliz. Não sou muito de coisa material. Aliás, não sou ligada a datas, porque, com elas, vem o consumismo, a obrigação de dar alguma coisa pra pessoa. Gosto de presentear fora de aniversário ou de Natal. Um grande presente imaterial, pra mim, seria poder receber a visita das pessoas que amo e já se foram. Que elas me dessem um abraço em sonho ou se materializassem.
Você vai comemorar seu aniversário num cruzeiro com amigos e fãs, em momentos de emoção e nostalgia. No navio, do que você não abriu mão?
Não abri mão de que tivesse comida vegana. Já estive em cruzeiros por vários países, e é muito difícil encontrar opção vegana de alimentação. Tem que ter uma adaptação, ficar perguntando: “Vem cá, esse macarrão tem ovo? Tem como fazer uma pizza sem leite, ovo e manteiga, só com tomate e legumes por cima?”. Acabo comendo legumes, verduras, batata frita, arroz e feijão, se não tiver bicho dentro. Neste navio, tiveram um carinho todo especial de chamar chefs especializados em comida vegana para os sete restaurantes a bordo.
O que tem de diferente no Navio da Xuxa, com relação aos cruzeiros de outros famosos?
Tanta coisa! Tem uma área com 60 figurinos meus, usados desde os anos 80 até agora. Um espaço com os prêmios que recebi, os discos de diamante... Uns lugares instagramáveis, onde as pessoas podem tirar fotos. Um espaço com o Moderninho (boneco que era ajudante dela no quadro do sorteio de cartas do “Xou da Xuxa”), onde podem escrever cartas pra mim. Imagens minhas que nunca ninguém viu, vídeos de família... Eu não sabia, por exemplo, que tinha feito mais de mil capas de revista, e elas foram reproduzidas. Tem momentos em que as pessoas podem interagir com o Fly (coreógrafo) e com outras pessoas da equipe. E um diferencial: pedi para que eu pudesse posar para 1.500 fotos. Ao todo, 3.200 pessoas estão no nosso navio, pagaram caro pra isso, e o mínimo que eu poderia fazer para esses meus convidados especiais é esse carinho. Infelizmente, 3.200 fotos é inviável, então sorteamos cabines e vou posar para 500 fotos por dia com esses contemplados.
Parece que foi ontem que você chegava a meio século de vida... O que mudou nesses últimos dez anos em si mesma e na sua forma de enxergar o mundo?
Quando fiz 50 anos, eu estava me reencontrando com o Ju (o cantor e ator Junno, seu namorado). Ele reapareceu na minha vida no dia 12/12/2012. E mudou muita coisa desde então! A minha pele ficou melhor, a minha vida sentimental passou a existir. Eu sempre falei que a minha mãe e os meus irmãos eram a minha família. Depois que a Sasha nasceu, passou a ser minha mãe e minha filha. Hoje, eu tenho uma maior: o Ju com a filha dele e a minha família de sangue. Aos 50 anos, eu me reencontrei com ele e me redescobri como ser humano e, principalmente, como mulher. Ju veio no momento certo. Porque eu perdi o meu irmão e depois o meu pai, a minha mãe, o meu filho de pelos, a minha segunda mãe... Passaram-se dois anos sem perdas, e aí minha irmã se foi no fim de janeiro. Se eu não tivesse ele perto de mim, eu daria uma fraquejada, uma pirada, sei lá. Entendo muito quando as pessoas falam que entraram em depressão, que começaram a tomar remédio quando passaram por um momento assim. Eu tive uma perda atrás da outra, e ele estava sempre ali do meu lado, tentando colocar música e poesia na minha vida, sempre tentando me fazer rir e estar presente. Ele mora em São Paulo, e cansou de viajar seis horas de carro pra lá pra algum compromisso e voltar no mesmo dia pra ficar comigo. Então, foi uma virada de chave muito grande na minha vida, dos 50 anos pra cá. Fora as mudanças físicas. A gente passa a não se curtir mais, porque o tal do colágeno vai embora. Mas, quando eu me olho no espelho e lamento “nossa, tá ruim”, ele passa e fala: “Oi, gostosa!”. E aí o mundo fica diferente, mais colorido.
Ainda na infância, na adolescência e na juventude, como imaginava a Maria da Graça entrando na chamada terceira idade, aos 60? A realidade se apresenta melhor ou pior com relação às suas mais remotas expectativas?
Maria da Graça? Não sou eu essa pessoa aí. Desde que nasci, sempre fui chamada de Xuxa por todos da minha casa e da minha vida. Da Xuxa de Santa Rosa, que saiu de lá com 7 anos e hoje está com 60, existem obviamente diferenças enormes. Porque eu era uma interiorana que foi criada no subúrbio e que conquistou simplesmente uma boa parte do mundo. O carinho imenso que recebi da América do Sul numa fase da minha vida, nos anos 80 e 90... O fato de eu apresentar programa na Espanha e ir pra outros lugares da Europa, comandar programa nos Estados Unidos e ir pra países como Israel... Até hoje eu colho frutos disso. Se faço alguma viagem, tem pessoas comentando sobre o meu trabalho até hoje. Saí de Santa Rosa e conquistei o amor e o respeito de gente de vários lugares do mundo. Caramba! É um privilégio único, uma coisa assustadora até. Que bom que eu não sei o tamanho disso tudo. Mas eu sinto e recebo. Falo comigo mesma: “Puxa, você conseguiu, hein? Chegou até aqui”.
Oficialmente, no Brasil, você já pode ser considerada “idosa” aos 60. Psicologicamente, isso mexe com você?
Olha, eu vou contar um segredo: estava louca pra chegar a essa idade. Dizem que, depois dos 60 anos, quando você se torna idosa, pode falar o que quiser e ninguém critica tanto. Tipo: você não é mais tão responsável pelas coisas que fala. Se com 20 anos, quando me colocaram um microfone na mão, eu já não era tão responsável pelo que eu dizia, imagina agora, que delícia! Vou poder falar muita coisa e me defender: “Ei, ei, ei! Sou idosa, nem vem” (risos). Psicologicamente, isso não mexe comigo, não. Agora, fisicamente... Cabeça, ombro, joelho e pé, dói tudo! Quando comecei na televisão, eu lembro que as crianças me chamavam de tia. Eu respondia: “Tia é sua professora, a irmã da sua mãe, a irmã do seu pai. Eu quero ser sua amiga”. Aí, depois de um tempo eu já comecei a me tratar como “Tia Xuxa”. Hoje, estou louca pra ser chamada de “Vovó Xuxa”, “Vovuxa”, qualquer coisa assim, ligada a vovó.
Com que idade você entrou na menopausa? Fez reposição hormonal ou escolheu métodos mais naturais?
Foi quando Sasha fez 15 anos. Foi logo que eu comecei a namorar o Ju. Seis meses depois, a gente fez uma viagem pelo aniversário dela e aí eu entrei na menopausa. Tive que fazer reposição hormonal, mas demorei uns dois ou três anos. Eu me arrependo, deveria ter começado bem antes para meu corpo não ter tido as respostas que teve. Foi um choque muito grande. Acho que é por isso que os médicos recomendam começar o tratamento aos 40.
Sofreu com fogacho, insônia, ganho de peso, perda de cabelo...?
Não tive insônia nem calor. Ganho de peso, sim. Mas acho que é porque passei a comer muito (risos). Depois que descobri o veganismo, passei a comer feito louca. Amo comida vegana! Saber que não tem sofrimento, não tem dor no meu prato... Nossa, fica tudo tão mais gostoso! E perda de cabelo, já é de família. A minha mãe teve alopécia, e eu acredito que nós todos (irmãos) temos alopécia genética.
Tem sentido os efeitos da passagem do tempo na rotina prática? Dor nos ossos, dificuldade para leitura, memória e audição falhas, pele mais sensível?
Nossa (risos)... Depois dessa pergunta, vou ter que começar a prestar atenção. Mas, olha só: faço 70 minutos de esteira toda noite para estar legal pros shows. Tenho uma saúde ótima. Meus exames de sangue estão perfeitos. Danço, tenho uma vida sexual maravilhosa. Quanto à visão, sempre tive problema pelo fato de ter olhos claros e ter sempre muita luz em cima de mim. Então, uso óculos pra leitura há muito tempo. Minha memória é muito boa, a audição também. E minha pele sempre foi sensível, não posso usar maquiagem pesada que me dá bolinhas, desde os meus 20 anos de idade. De resto, está tudo certinho.
Você sempre foi muito emotiva. O avanço do tempo tem a tornado uma pessoa ainda mais sensível? Tem se percebido com mais medos, inclusive da morte?
Sou uma pessoa normal com essa sensibilidade. Tenho pensado desde a primeira perda, do meu irmão, com uma parada cardíaca repentina. Isso me deixou meio sem chão, pensando que de um dia pro outro a gente pode não estar mais aqui. Há pouco tempo, minha irmã dormiu bem e acordou com uma parada respiratória. Ou seja, não é uma questão de pensar na morte, e sim de conviver com ela. Quanto mais velho você vai ficando, obviamente, isso vai aumentando. Começa a ser mais usual ouvir alguém dizer “Sabe fulano, que você conheceu? Se foi”. Antigamente, eu falava: “Nossa! Fulano morreu!” (com ênfase). Hoje em dia é: “Ih, caramba, é mesmo?” (mais conformada). A gente passou por uma pandemia que matou muita gente, e ela ainda está aí. Se Deus quiser, novas pandemias não vão surgir. Mas conviver com a morte é a única certeza que a gente tem na vida. Se vive, um dia vai morrer.
Hoje se fala muito em etarismo. Antes de ser alvo do preconceito com a idade, você o percebia tão nitidamente? Qual primeiro comentário a respeito da sua aparência que doeu?
Eu senti um dia em que postei uma foto na praia, totalmente sem maquiagem, querendo mostrar que a gente estava num lugar lindo, com uma água bem clarinha. E 80% dos comentários ruins vieram de mulheres. Os outros 20% ruins vieram da comunidade LGBTQIAP+, dizendo que achavam que eu deveria fazer plástica, cuidar do meu cabelo, fazer preenchimento, botox... Na realidade, eu acho que essas pessoas se chocaram porque não queriam que eu envelhecesse. Ao me ver velha, tiveram a comprovação de que elas também estavam envelhecendo. Mas todo mundo vai ter que envelhecer! O que eu acho que precisa ser dito e repetido é que as pessoas não têm que se meter na vida dos outros. Eu posso olhar a foto de alguém e falar, no máximo, pro Ju ou pra Sasha: “Nossa, não gostei desse procedimento que a fulana ou o beltrano fez”. Porque são pessoas públicas, fizeram e os outros vão perceber. Agora, eu entrar na página dessa pessoa, colocar o dedo e dizer: “Você exagerou nisso, deveria fazer aquilo”. Isso é uma falta do que fazer! Uma falta de respeito e de sensibilidade! Chega a ser falta de índole boa, sabe? Porque uma pessoa do bem não fala isso.
O que mais gosta em você quando se olha no espelho hoje?
De uma coisa que eu não posso ver no espelho: a minha cabeça, a minha maturidade.
A ditadura da beleza foi e é cruel com você? Ao que foi mais difícil se submeter para se encaixar nos padrões por tanto tempo? Seu manequim permanece o mesmo desde os tempos de modelo?
Ah, não, claro que não. Eu já tive que ter 54kg, 55kg. Hoje, tenho aproximadamente 68kg. São quase 20 quilos a mais do que quando eu era modelo e estava na televisão. Precisava ter aquele corpo porque a TV “engorda” três quilos. E minha empresária e diretora na época, Marlene (Mattos), exigia que todas nós fôssemos fora da curva, muito mais magras do que o nomal. Isso, sim, me atrapalhou um pouco. Não foi a ditadura da beleza, foi uma imposição dela.
Você sempre olhou de forma empática para as chamadas minorias ou para os setores da sociedade que, embora maioria, sempre sofreram preconceito. Um dos momentos mais emocionantes do “Altas horas” em sua homenagem foi quando o ator Silvero Pereira contou que na infância era chamado de paquita por ser uma “criança viada”. E foi coroado no programa, simbolicamente, como tal. Nos seus anos como apresentadora do “Xou da Xuxa”, você percebia que muitos meninos como ele sofriam preconceito por admirá-la?
Silvero é um cara muito incrível, mas eu não posso falar como se o que eu tivesse feito fosse somente pros integrantes da comunidade LGBTQIAP+. Sempre trabalhei para todas as crianças, com todas as suas diferenças: deficientes físicos e mentais, as que se comunicam pela língua dos sinais, os excepcionais, os cadeirantes... Nunca pensei “só vou trabalhar para crianças bonitinhas que façam ou falem ou ajam assim”. Eu acho assim: Silvero se via diferente, como essas outras pessoas, e percebia que eu abraçava todo mundo com suas diferenças. Percebia que eu estava sendo eu. Acredito que eles viram em mim alguém que queria trabalhar pra criança, não importava se ela era do interior e se era uma “criança viada”, como ele disse. Eu sempre quis fazer o meu melhor para todos os baixinhos.
Já crescidos, os fãs LGBTQIAP+ encontraram em você apoio à causa. Você já foi alvo de boataria a respeito de sua sexualidade. Causou indignação, quando chegou aos seus ouvidos?
Não, porque eu acho que isso foi plantado. Vejo que, naquela época, quando falavam isso e faziam com que esse assunto ficasse em evidência, as pessoas que trabalhavam comigo não faziam absolutamente nada para que isso fosse mudado. Hoje eu percebo assim: queriam que falassem de mim, fosse bem ou mal. Isso não me deixou chateada nem chocada, mas incrédula. Eu chegava a perguntar para as pessoas: “Mas, vem cá, eu fiz alguma coisa, falei de alguma maneira ou me vesti de alguma forma para que pensassem desse jeito?”. Mas não, isso foi plantado.
Namorando Junno há uma década e cada vez mais dona de si, considera-se totalmente bem resolvida sexualmente? Como está a libido?
Eu e ele nos consideramos muito bem resolvidos sexualmente. E estamos com a libido bem, obrigada. Neste momento, trabalhando muito, posso até ter umas reclamações. Mas, depois deste aniversário, acho que a gente vai ter mais tempo para deixar a libido em dia.
Também depois desse “Altas horas” em sua homenagem, alguns militantes da causa negra se manifestaram nas redes sociais, afirmando que nunca se sentiram representados por você. Disseram que não romantizam a sua importância porque são pretos e de periferia. De que forma esse posicionamento deles lhe chega?
Com muito respeito. Eu tive a minha paquita negra, chamada Natasha, lá nos Estados Unidos, onde também havia uma ruiva, uma loira e uma morena. Porque lá eu não tinha a mesma diretora daqui, que idealizou uma loira na frente e oito atrás. As pessoas respeitavam as vontades dela (da Marlene Mattos) e não os meus pedidos. Lá fora, aconteceu, aqui não. E acho que as pessoas negras têm toda a razão por não se sentirem representadas. Eu também não me veria ali. Teve a (Adriana) Bombom , a pedido meu, bem mais tarde. Continuo achando ela uma das mulheres mais bonitas que conheço. Bombom vai fazer 50 anos e é extraordinariamente linda, em todos os sentidos. Corpo, pele, boca, sorriso, alma e coração. Então, a única coisa que eu posso dizer para essas pessoas que afirmam que a Xuxa não as representava é: vocês também têm o meu respeito.
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