Xamã abre mansão onde mora sozinho com cachorros, mas nos fins de semana recebe as filhas e ex-mulheres: 'Tudo é motivo para festa'

25/03/2024

Fonte: Jornal Extra Por Thomaz Rocha

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Atualmente, o grande desafio do artista é conciliar as funções de ator, cantor e de pai de Akasha, de 6 aninhos, e Hanna, de 2: 'Por enquanto duas tá bom'

No passado, Geizon Carlos da Cruz Fernandes não imaginava que viraria Xamã, artista reconhecido por sua arte, tanto na música como, agora, na dramaturgia. Fascinado por cinema, o menino que vivia alugando filmes na locadora perto de sua casa veio a construir uma trajetória que renderia um belo roteiro para um longa-metragem. Ao interpretar Damião, um dos destaques de "Renascer", ele revê sua história de luta, depois de passar por momentos difíceis. De origem humilde, o cantor e ator, que hoje mora numa mansão no Itanhangá, foi criado pela avó em Sepetiba, na Zona Oeste do Rio.

— Minha mãe não tinha condições de cuidar de mim o dia inteiro e trabalhar ao mesmo tempo. Eu ficava com a minha avó, nunca tive atenção do meu pai, mas tive dos meus tios. Minha mãe sempre foi muito trabalhadora para fazer a vida dela sem depender da minha avó — afirma o ator, aos 34 anos, que segue sem ter contato com o pai.

A virada de Xamã veio aos 19 anos, quando resolveu sair da casa da família para tentar viver de música. Quando começou a participar das batalhas de rimas, ele largou seu emprego numa loja de roupas para trabalhar nos trens do Rio, vendendo bala e amendoim. Mas a intenção era mostrar seu trabalho para os passageiros e assim conquistar visualizações no YouTube.

— Romantizo esse momento de transição como se tivesse sido uma coisa rápida, mas fiquei um tempo bem ferrado. Tinha falado para minha mãe que eu ia sair de casa para fazer música. Ela achava superbacana, mas eu não tinha para onde ir nem o que comer. Teve uma época em que eu dormia embaixo de um ônibus em Campo Grande para que ninguém me visse e contasse pra minha mãe. Quando chovia, dormia dentro do ônibus. Me escondia no fundo do busão para o piloto não me ver — lembra.

A realidade dos trens não foi fácil. Ele via o preconceito no olhar de passageiros incomodados com suas rimas. Mas foi dentro dos vagões que ele teve seu maior aprendizado:

— O preconceito existe, mas o método que eu encontrava para vender era a rima. Quem queria amendoim comprava. Quem não queria, mas gostava da rima, comprava pra me ajudar. Ia amolecendo a pessoa que estava endurecida pela vontade de chegar em casa, muitas vezes com fome... Tá todo mundo ali numa tensão. Se acontece um bagulho errado, o trem fica pior que o Twitter (risos). Ainda tem uns guardinhas que metem a porrada quando dá merda.

Antes de virar Xamã, ele usava o nome Nightwolf (um personagem do Mortal Kombat (série de videogames), que, por meio de invocações ritualísticas, manifesta com faculdades curativas e divinas um verdadeiro xamã). Ele foi rebatizado por conta da dificuldade das pessoas em decorar o nome artístico antigo.

Com seu trabalho nos trens, Xamã conquistou a sonhada repercussão que aumentou o números de inscritos em seu canal no YouTube. Cada vez mais reconhecido por suas rimas, foi gravando novos conteúdos e clipes. Num roteiro de filme, certamente seria assim: cena no trem, corta, Xamã aparece em 2021 explodindo com o hit “Malvadão 3”, o top 1 do Spotify no Brasil.

Conhecido em todo o país, chegou a gravar três álbuns e hoje reúne mais de oito milhões de seguidores no Instagram. Nesse meio tempo, ele ainda tentou seguir a carreira no Direito, mas não chegou a se formar.

— Meus primos tinham feito faculdade, os outros da família queriam fazer. Na primeira oportunidade que pintou, fui lá, mas não deu muito certo. Estudar uma coisa que a gente não ama por obrigação é difícil — pontua.

Consolidado na música, ele agora prioriza a interpretação. Tanto que, além da novela, está no elenco de “Justiça 2”, série prevista para estrear dia 11 de abril no Globoplay. Apesar de sua alegria em realizar o sonho de ser ator, ele já leu comentários que o criticam por enveredar no ofício.

— Se você posta qualquer coisa na internet, sai de casa, bota uma roupa... Sempre as pessoas vão reclamar. A trajetória que eu tive na música me deixou bem calejado quanto a críticas que me machucaram anos atrás. Não importa o que eu faça, se eu ganhar um Oscar ou um Grammy, sempre vai ter alguém para falar mal. Podem ser mil comentários positivos e dois negativos, se eu levar para o pessoal, vou ter motivo (pra ficar pra baixo). Procuro nem ler. Quando vejo que um post tem muito like, concluo que deu uma merda muito grande ou que ficou muito bom (risos) — detalha Xamã, completando:

— Recebo todos os tipos de cometários, como "Ah, estão reciclando pessoas", "tá igual a ex-BBB", "Ah, você não sabe tal coisa". Sempre tenho que provar algo. Temos que calar os críticos de uma forma respeitosa com o que fazemos. As pessoas que mais respeitam a gente são as que mais duvidaram da gente.

Em "Renascer", o carioca é considerado um galã rústico, já que foge dos padrões de figuras de destaque nas novelas. O rótulo foi dado por Jackson Antunes, ator que interpretou Damião na primeira versão da novela, exibida em 1993, e que agora vive o Deocleciano na trama.

— Os rostos que geralmente apareciam na TV como padrão estão fora de moda. Hoje, a galera sabe que o Brasil é feito por pessoas que representam vários corpos e tipos de beleza. Antigamente, não víamos pessoas de outra cor, aí a pessoa começa a achar que é feia porque não está representada ali. Sempre gostei de me arrumar, sempre gostei de me ver no espelho. Me considerava feio, mas era bom de papo (risos). É um processo de adaptação. A gente vai compreendendo o tamanho do Brasil e sua diversidade — afirma.

A noção de representatividade chegou à vida de Xamã mais recentemente, quando resolveu conhecer a cultura de seus antepassados indígenas e mergulhar na conexão com sua ancestralidade.

— No Rio, é muito difícil, já que não temos aldeias. Quebraram tudo e fizeram prédios, os indígenas foram para a favela, para as ruas. Nunca consegui fazer o meu resgate. O lance é ir à aldeia e conhecer a cultura. Tem que participar, conviver. Isso é uma consciência nova em minha cabeça. O mais bacana é hoje ter indígenas em papéis não estereotipados na TV — destaca.

Um dos pontos que chamou atenção de Xamã em suas pesquisas sobre a cultura indígena foi a religiosidade de seu povo. Criado dentro de uma casa com diversidade religiosa, ele não se considera pertencente a uma crença.

— Na minha família, cada tio tem uma religião. Acredito num todo. Creio em Deus, nos orixás, na minha ancestralidade indígena... Acho que é muito além do que a gente pode explicar. Lembro de um momento de não ter fé nenhuma, de criticar. Mas já tive prova espiritual, acredito muito nisso, aprendi a respeitar todas as opiniões. Num dia estava debaixo de um busão e hoje subo num palco e canto pra um monte de gente. Isso só pode ser espiritual — diz ele.

Para o ensaio fotográfico desta reportagem da Canal Extra, Xamã escolheu posar em seu lar doce lar. Morando sozinho, acompanhado de dois cachorros, Ragna (um american bully) e Amora (uma dobermann), o artista sempre quis ter uma casa grande.

— Imaginava uma casa gigante, mas o meu gigante naquela época era pequeno (risos). Trabalhei tanto todos esses anos que ficou difícil de curtir meu canto. Tenho um estúdio aqui no meio da sala de cinema, é o lugar que eu mais frequento. Na parte de cima, onde tem varanda e sinuca, fazemos resenha ouvindo um sambinha. Nos fins de semana minha família sempre vem. Minhas filhas, as mães delas, minha mãe... Tudo é motivo para festa. Seja um aniversário, seja um jogo do Fluminense — conta o tricolor.

Atualmente, o grande desafio de Xamã é conciliar as funções de ator, cantor e de pai de Akasha, de 6 aninhos, e Hanna, de 2.

— Por enquanto duas tá bom (risos). Agora só faço de novo quando eu casar. Vou casar de véu e grinalda (risos). Hoje não tenho tempo de dar atenção a uma relação por conta dos trabalhos. Já tenho duas namoradas, a música e a Globo, e elas são bem ciumentas (risos) — brinca o cantor, que, de vez em quando vê seu nome divulgado como affair de alguma artista (a famosa da vez é Mell Muzzillo, a Ritinha, seu par romântico na novela.

Independentemente dos boatos, Xamã diz manter um bom relacionamento com as mães de suas filhas:

— Tenho sido o pai que sempre pensei ser, agora mais que antes. O tempo com minhas filhas é o que mais prezo. No início da carreira, eram muitas viagens. Hoje, a gente está o tempo todo junto. Akasha faz teatro. Nas peças dela, não podemos sentar na fileira da frente porque ela fica olhando pra gente e esquece o texto, temos que ficar escondidos.

Ao criar duas meninas, Xamã se preocupa com assédio e com violência:

— Minhas filhas ficam com o telefone na mão, já sabem assistir a vídeos. Então tem que ficar ligado no que elas estão assistindo. Acompanhar criança a se desenvolver é muito bacana, a gente aprende a ser um ser humano melhor. Fora isso, estou cada vez mais preocupado com a segurança. O Rio está sinistro.