Valentina Bandeira: ‘Ser filha de pai gay me deu uma educação muito libertária’

21/10/2024

Fonte: Por Camila Cetrone, redação Marie Claire — São Paulo (SP)

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Ao participar do Festival Marie Claire, em São Paulo, neste sábado (19), a atriz e apresentadora falou de sexualidade e liberdade, e debochou de críticas que recebeu por fotos e vídeos de calcinha: "O que me cansa mesmo é a autoestima delirante dos homens. Dá vontade de falar: 'Cara, você é um merda'"

Quase diariamente Valentina Bandeira aparece de calcinha em seu Instagram, seja em foto ou vídeo. O motivo não é nada demais: a atriz e apresentadora de 30 anos explica que é como ela dorme – de camiseta e calcinha – e, ao acordar, se mostra como está aos seguidores. Sem filtros. Mas, recentemente, seu corpo chamou a atenção de certas bolhas da internet; e aí, deu de cara com o movimento conservador da internet, que a criticava, sobretudo, por “não ter bunda”, nas palavras da própria.

"Como os homens são exigentes, né? Acho que furou a bolha, caiu num negócio meio incel, nazista e conservador. Uma coisa louca que tem no Twitter, um submundo. Foi uma coisa impressionante para mim, não sei porque de repente um vídeo meu de calcinha foi uma grande questão”, afirmou Valentina em entrevista concedida na 2ª edição do Festival Marie Claire neste sábado (19), no Instituto Principia, em São Paulo.

Em um papo com a editora de redes sociais e cultura de Marie ClairePriscilla Geremias, a atriz pensou sobre liberdade e sexualidade entre mulheres da geração Z no Brasil atualmente.

Perguntada se fica incomodada, por vezes, com a pressão que as redes sociais impõem, ela diz que "enche um pouco o saco, sim. Mas nada que me faça parar".

"Eu tô aí, mas não tô nem aí, gente. Não é um bolsonarista idoso que vai me falar alguma coisa sobre minha bunda que vou pensar: 'Realmente, minha bunda deve ser feia mesmo'. Faço análise há 22 anos. Vai ter que se esforçar um pouquinho mais para me desestabilizar a ponto de eu questionar minha própria autoestima e meu próprio corpo", pontua. "O que me cansa mesmo é a autoestima delirante dos homens. Dá vontade de falar: 'Cara, você é um merda. Por favor, se liga'."

A apresentadora também fez um balanço sobre se as mulheres, atualmente, são mais livres do que já foram e de que forma a sociedade lida com o avanço das mulheres e o conforto delas em falar sobre a própria sexualidade, amor e corpo.

Para ela, os avanços são enormes, mas há entraves – sobretudo para mulheres em uma posição menos privilegiada na sociedade.

"A gente tem uma herança religiosa e moralista terrível, que faz com que a gente se oprima e seja oprimida. Mas estamos caminhando. Tenho 30 anos, e vejo a galera de 20 com muito mais questionamentos que a minha galera aos 20 anos. A coisa está andando muito rápido por causa do poder da internet, da globalização, porque os assuntos são meio universais. Mas ainda temos grandes barreiras difíceis de serem quebradas. tem um tradicionalismo e um conservadorismo assustadoramente forte", diz.

 

‘Ser filha de pai gay me deu uma educação muito libertária’

Valentina nasceu na França e, ainda criança, se mudou para o Brasil. Ela é filha do bailarino e diretor Ricardo Bandeira, e conta que a sexualidade do pai influenciou seu desejo e sua postura de liberdade.

"Sou filha de pai gay, e ele me criou numa época que não tinha muitos pais gays assumidos de amiguinhos do colégio. Eu era a única. Ele me criou numa doutrina de libertação justamente para eu poder receber essa informação com mais leveza quando entendesse o cenário todo. Ele não me falou que era gay para uma criança de 3 anos, demorou para me falar com clareza, mas ele me educou para que essa informação chegasse bem quando chegasse até mim."

“Tive uma educação muito libertária mesmo. Me perguntam se é traumatizante ter pai gay, mas é a coisa que mais me orgulho na minha educação. Me abriu ao mundo tal qual ele é: diverso e tolerante às diferenças."

 

Relação com a própria sexualidade

 

Perguntada sobre qual é sua sexualidade, Valentina diz que "não sabia que era para escolher", mas que tem uma heterossexualidade compulsória, "para a decepção da minha família. "Gosto de mulher que usa camisa de time, sabe?", brinca. Perguntada sobre se trocou bastante sobre sua sexualidade com o pai, ela responde: "Ele não tá nem aí, eu acho, para quem eu tô pegando. Não é problema dele".

Mesmo que apareça super desbocada e segura consigo mesma, Valentina afirma que é muito tímida. "Sou travada. Fui a mais cabaça de todas as minhas amigas, a última a pegar alguém."

 

‘Uma mulher engraçada acaba com qualquer um’

 

Anteriormente, Valentina já reconheceu que adora deixar homens constrangidos. E ela mesma se surpreende com sua capacidade de fazer isso.

"Fui fazer um trabalho em outro país. Tinha dois caras, e um deles perguntou quem eu era. O amigo dele falou: 'É a Valentina Bandeira, cuidado que ela vai te esculachar!' E eu fiquei felicíssima", diz, arrancando risos da plateia.

Mas qual o motivo da felicidade? "Porque eu não sabia que tinha esse poder de esculachar um homem", diz. "E é muito fácil deixar um homem desestabilizado. É só dar uma sacaneada nele de leve. Se for calvo então... acabou. Mas eu gosto disso", diz.

Como conselho para outras mulheres para que consigam se sentir mais confortáveis em expressar suas sexualidades, ela defende o uso do humor. "Uma mulher engraçada acaba com qualquer um. Não tem para ninguém. Isso vai dar leveza para vocês fazerem o que quiserem e enfrentarem quem vocês precisarem"

 

Trabalhos de Valentina Bandeira

 

Como atriz, Valentina fez diversas peças do Teatro Tablado e integrou o elenco de novelas como Geração Brasil, Totalmente Demais e Todas as Flores, da Rede Globo; além do seriado As Canalhas, do GNT, e de uma nova versão do Zorra, exibida no Fantástico em 2020.

Em seu canal no YouTube, com mais de 100 mil inscritos, criou o programa de entrevistas Passa Lá Em Casa, que recebeu nomes como a atriz Deborah Secco, a apresentadora e influenciadora Patrícia Ramos e o deputado federal Guilherme Boulos; e passou a apresentar uma nova versão do Beija Sapo, da MTV, desde 2023.

Os mesmos temas que abordou em sua participação no Festival Marie Claire também são recorrentes em seu feed do Instagram, rede social onde acumula 1,3 milhão de seguidores.

 

Sobre a 2ª edição do Festival Marie Claire

 

Encontro dedicado à saúde feminina e ao equilíbrio físico, mental e emocional das mulheres no mundo contemporâneo, a 2ª edição do Festival Marie Claire discute e celebra o bem-estar feminino na contemporaneidade. Com realização da revista Marie Claire e Grupo Globo, conta com patrocínio de Soul Good, Roche, Neo Química, Grupo Oncoclínicas e Kopenhagen. A entrada é gratuita ao público. O evento é realizado no dia 19 de outubro de 2024 no Instituto Principia, em São Paulo.

Entre as conversas que ocorrem na edição de 2024 estão mesas sobre sexualidade, auto imagem, talks sobre corpo, identidade e etarismo. Filosofia, nutrição e feminismo são outros temas que ocupam o palco do evento.