Taís Araujo: 'Sou uma mãe que coloca limites, é isso que me difere da Raquel'
10/07/2025

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Aos 46 anos e com três décadas de carreira, a atriz discute maternidade tóxica e representatividade enquanto o Brasil assiste à vingança mais esperada da TV em 'Vale Tudo'
Aos 46 anos, Taís Araujo reúne o Brasil para o acerto de contas com a vilã Maria de Fátima, interpretada pela atriz Bella Campos. Foram 30 anos de carreira, 14 novelas e 8 protagonistas que trouxeram a veterana para esse momento quase agoniante por um 'basta!'. Um roer de unhas dos telespectadores que só a cultura popular de novela pode proporcionar. Na nova fase de Vale Tudo, os papéis se equilibram, os astros se alinham, e fazem com que um país inteiro pare para ver uma mãe assumindo as rédeas da própria vida e rasgando de vez o elo problemático da maternidade abusiva.
Sim, é a partir desse entendimento de relacionamento abusivo que Taís Araujo se sustenta para refletir sobre a virada de chave de Raquel na nova versão da novela. "Não tem limite o que uma mãe pode suportar por um filho. No caso da Raquel, é um desejo desesperador de resgatar essa filha. Ela abdicou da vida dela para essa criação. Essa não é só a Raquel – a gente conhece milhões de mulheres assim, que abdicam de si pelo outro, pela família... A Raquel é uma dessas mulheres que a gente conhece", diz ela na entrevista de capa de julho da Quem, na qual aparece poderosa com laces.
Na noite desta segunda-feira (7), assistimos à emblemática cena em que Raquel rasga o vestido de noiva da filha, Maria de Fátima (Bella Campos), após expor algumas das falcatruas da jovem. "Assisti ao capítulo com meu marido. A gente estava bem apreensivo. A reação foi linda, recebi uma onda de amor dos meus colegas, dos meus amigos e do público. O mais importante é fazer com que o outro sinta a emoção. Esse é o nosso trabalho. Sabia que as pessoas estavam esperando muito por essa cena e, obviamente, queríamos que as pessoas curtissem", conta.
Da violência física à patrimonial, a narrativa de Maria de Fátima escancara o que muitas vezes é colocado em segundo plano quando se fala em relações tóxicas. "Ela realmente manipula a Raquel, que fica ali sem saber como lidar. Tudo é um medo de perder, um medo da culpa. Ela, que é uma mulher tão forte, determinada, na relação com a Fátima, ela não consegue. Ela fica frágil e cede".
Para Taís, nas relações de maternidade também é necessário ficar vigilante. "Eu acho que todas correm o risco de serem abusivas. Desde uma relação entre casal, uma relação entre amigos, até uma relação entre pais e filhos. A gente tem que ficar muito atento para não abusar ou ser abusado".
Fora dos momentos de gravação, a atriz conta conseguir sentir a energia do telespectador ansioso pela hora em que Raquel irá dar um basta nos abusos da filha. Para a atriz, o público ficar com raiva da personagem faz parte do jogo chamado roteiro, pensado principalmente para potencializar a reviravolta tão aguardada. "É importante estar fervendo nesse lugar. Mas o meu trabalho como atriz, como intérprete da Raquel, é dizer que é muito fácil julgar quando você não está dentro da relação", reflete. "A gente, dentro da nossa própria vida, sempre arruma solução para a vida dos outros. E é muito curioso que normalmente a gente repudia o que a gente reconhece na gente... Se estivéssemos nessa situação da Raquel, acho que também iríamos demorar para acordar".
Na vida pessoal, Taís se orgulha da família construída com o ator Lázaro Ramos. Juntos, são pais de João Vicente, de 14 anos, e Maria Antônia, que tem 10 anos. Para ela, no entanto, a sua maternidade e a de Raquel se distancia num ponto crucial.
"Eu acho que eu sou uma mãe que coloca limites. Porque para mim limite é amor. E se eu não der limite, quem vai dar mais tarde é a sociedade, e vai ser muito pior. É isso que me difere da Raquel", afirma. "Eu faria de tudo e muita coisa para resgatar um filho que está perdido. Mas faz parte do limite fazer com que os seus filhos assumam as suas responsabilidades. Eu falo com os meus, até desde pequenos: você escolheu isso? Banca a sua escolha. Toda escolha implica uma renúncia".
Na primeira versão de Vale Tudo, a cena que marcou gerações foi a de Raquel - papel de Regina Duarte - confrontando Maria de Fátima, na época Gloria Pires, após descobrir ter sido vítima de uma mentira que a separou do par romântico, Ivan, além de descobrir o casamento por interesse da filha com Afonso.
Taís Araujo voltou à gravação de 37 anos atrás para estudar a vingança da sua personagem. "No dia que a gente fez, eu confesso que estava muito concentrada. Eu estava estudando essa cena há muito tempo, eu revi a da primeira versão para entender a importância dela", revela, explicando que na época da primeira versão tinha apenas 10 anos. "Mas eu não revi a novela inteira para poder fazer a minha Raquel".
Nos bastidores, os ânimos foram muito mais contidos do que o público geralmente anseia. "A cena tem uma mecânica grande, porque tem a coisa de rasgar o vestido. Como é que a gente vai rasgar o vestido, de que lado ele está preparado para a gente rasgar... Não é uma cena com avalanche de emoção. Tem muito técnica por trás para ela poder funcionar".
Uma dessas técnicas foi para não machucar a atriz Bella Campos, cuja personagem viverá a vingança amarga da mãe. "A gente sempre tem um cuidado. O pessoal da ação fica com a gente, preparando quase que uma coreografia para não haver risco de machucar ninguém", detalha, usando como exemplo o tapa que Raquel dará em Maria de Fátima.
A nova fase também traz mudanças significativas para o visual de Raquel, que estará com a conta bancária abastada. "A gente sempre faz um trabalho em conjunto, tanto com a caracterização quanto com o figurino. O figurino tinha a questão de que a gente não podia perder a identidade dela. Ela gosta de estampado, não pode perder isso. O que a gente pode fazer? A gente pode sofisticar as estampas. Mas o que ela entende como gosto, enquanto pessoa rica, nunca vai ser igual ao dos Roitman".
É importante destacar a temporalidade entre a primeira versão e o remake. São 37 anos de distância e um abismo de consciência racial, principalmente no que diz respeito à figura do negro no lugar de protagonismo.
Em Vale Tudo, que conta com um núcleo diverso e cheio de representatividade, os detalhes não podem passar despercebidos. "Raquel tem um cabelo comprido, volumoso... Muito volume! A gente quer que ela seja orgulhosa de quem ela é".
A atriz também reflete como a narrativa do negro na sociedade mudou em quase 40 anos. "Hoje, a gente tem uma população negra muito diferente do que tinha em 1988. E com uma autoestima mais trabalhada, uma consciência racial mais elaborada. É um país de muitas mazelas ainda, obviamente, mas tem uma população negra mais consciente de quem é e de como o Brasil olha para a gente. Não estamos lidando mais com aquele Brasil que acreditava na democracia racial, que todos somos tratados iguais pela sociedade. É muito bom que esse véu tenha caído. A partir daí a gente tem uma quantidade enorme de mazelas para lidar, mas pelo menos a gente está sabendo com quem está lidando".
Nesses 30 anos de carreira, Taís tem sido parte ativa dessa construção da referência negra em lugares de destaque, abrindo caminho para um cenário mais positivo. Em novembro de 2024, por exemplo, pela primeira vez na história da TV Globo, três novelas exibidas simultaneamente tiveram atrizes negras como protagonistas. Foram elas Duda Santos em Garota do Momento, Jéssica Ellen em Volta Por Cima e Gabz em Mania de Você.
Questionada se se enxerga nesse lugar de ícone, a atriz pondera sobre os desafios que esse título traz consigo. "Antes, eu tinha um pouco de receio. Só depois entendi que não é um peso, acho que a palavra mesmo é responsabilidade. Hoje, eu tenho muito orgulho de ocupar esse lugar e eu entendo a importância, porque tem uma lacuna aí que precisava ser preenchida. Faltavam referências. Se a gente parar para olhar, tem uma geração entre a Zezé Motta e a minha, que hoje está com quase 60, que é uma geração que não foi vista. Então, quando eu entendi a importância de ocupar esse lugar, eu tive muito prazer de estar com responsabilidade, de construir uma nova narrativa sobre nós".
Estamos prestes a conhecer uma nova Raquel. Você acha que existe um limite para o que uma mãe pode suportar por um filho?
Não. Não tem limite. Acho que no caso da Raquel, é um desejo desesperador de resgatar essa filha. Ela não vai desistir da filha. É muito difícil você me contar alguma história em que uma mãe tenha desistido de seu filho. No caso dela, cai uma venda dos olhos em que ela se recusou durante muito tempo. Ela tem um desejo desesperador de resgatar a filha dela.
A Raquel se coloca como uma pessoa muito íntegra, mas pela filha ela ultrapassa esses limites morais e éticos que assume...
A partir de agora a gente tem uma mudança. Mas ela se colocou de lado, primeiro quando a mãe morreu para cuidar do pai e da casa, depois quando ela casou com o Rubinho, ela abdicou dos sonhos dela para ir viver uma vida lá em São Paulo. Depois, ela abdicou da vida dela para a criação da filha. Então, ela é uma mulher que abdicou de si muitas vezes, essa é uma prática da Raquel. E não só da Raquel, a gente conhece milhões de mulheres que abdicam de si pelo outro, pela família... A Raquel é uma dessas mulheres que a gente conhece. E eu acho que ela vive uma relação abusiva com essa filha. A Maria de Fátima realmente manipula a Raquel. A Raquel fica ali sem saber como lidar. Tudo é um medo de perder, tudo é um medo da culpa. A Raquel fica realmente boba muitas vezes. Ela que é uma mulher tão forte, determinada, na relação com a Maria de Fátima, ela não consegue. Ela fica frágil e cede.
"Raquel é uma mulher que abdicou de si muitas vezes. Ela fica realmente boba"
Você citou esse termo relação abusiva. Acredita que isso ocorra mesmo entre mãe e filho? É algo presente na nossa sociedade?
Acho que todas as relações correm o risco de serem abusivas. Desde uma relação entre casal, uma relação entre amigos, uma relação entre pais e filhos. A gente tem que ficar muito atento para não abusar ou ser abusado, você tem que ficar muito atento e muito alerta em toda e qualquer relação, porque se corre o risco, sim. A Raquel fica ali à mercê da Maria de Fátima, mas essa é a história da personagem, até para ter o ponto de virada.
O que acha da opinião do público sobre a passividade da Raquel perante os abusos de Maria de Fátima?
Faz parte do jogo a gente achar a Raquel boba, burra. A gente fica com raiva da Raquel, com o ranço, mas faz parte. É importante que isso aconteça para que a virada seja forte. É importante que nós falemos: "Não aguento mais, quando é que ela vai pegar a Maria de Fátima?" É importante estar fervendo nesse lugar, porque essa é a construção certa para ela poder dar a volta depois. Mas o meu trabalho como atriz, como intérprete da Raquel, é dizer que é muito fácil julgar quando você não está dentro da relação. A gente, dentro da nossa própria vida, sempre arruma solução para a vida dos outros. E é muito curioso que normalmente a gente repudia o que a gente reconhece na gente... Só que, como a gente não está lá vivendo, precisamos que ela resolva aquilo logo para poder sanar na gente um desejo pessoal de reação. Se estivéssemos nessa situação da Raquel, acho que também iríamos demorar para acordar.
"A Manuela Dias está construindo essa volta por cima da Raquel e é importante que esse ranço aconteça"
Já aconteceu algum episódio de receber o descontentamento do público na rua?
Olha, mas desde o primeiro capítulo, uma menina que trabalha no mercado onde eu faço academia fala assim: 'Quando é que você vai dar na cara da Maria de Fátima?' E é todo dia! Ontem, uma pessoa falou comigo também. Todos os dias as pessoas falam isso, as pessoas estão criando essa expectativa. Quando eu vejo a reação do público com o ranço da Raquel, eu fico sempre pensando assim: "Nossa, eu acho que tô entendendo aí o que que a gente tá construindo". A Manuela [Dias, a autora] está construindo essa volta por cima da Raquel e é importante que esse ranço aconteça.
Essa comoção também diz muito sobre o seu desempenho como atriz, você concorda?
Ah, eu acho que diz muito sobre o meu trabalho. Diz sobre o quanto o meu trabalho afeta as pessoas. O trabalho do ator é um trabalho de afetar mesmo. É um trabalho de provocar sentimentos e sensações. Então, é muito forte quando eu vejo, eu falo: 'Nossa, as pessoas estão sendo afetadas por essa história'. E isso é o que a gente quer. A gente quer afetar as pessoas. A gente não quer que essa novela passe de forma ilesa. A gente quer provocar. A gente quer afetar as pessoas. A gente quer causar sensações.
A cena do vestido rasgado é um marco. Como foi a preparação para gravá-la? Você se conectou com alguma memória pessoal para trazer essa emoção à flor da pele?
Essa cena é muito importante, porque, primeiro é a ruptura da mãe com a filha definitiva, né? E o rasgo do vestido... Tem a questão imagética mesmo, de você rasgar, romper uma relação. E no dia que a gente fez, eu confesso que estava muito concentrada, estava estudando essa cena há muito tempo, eu vi a primeira versão dessa cena para entender a importância dela para a gente, porque quando essa novela passou, eu tinha 10 anos. Eu vi a novela quando passou, provavelmente vi um Vale a Pena Ver de Novo, mas eu não revi a novela para poder fazer a minha Raquel.
Então, a gente ficou um tempão passando a cena, tentando entender como é que a gente ia fazer. A cena tem uma mecânica grande, porque tem a coisa de rasgar o vestido, né? Como é que a gente vai rasgar o vestido, de que lado o vestido tá maquinado pra gente rasgar. Não é uma cena com uma avalanche de emoção. Ela tem muita técnica por trás também pra poder funcionar. Eu lembro que no dia que eu cheguei parecia um reality show. A gente tinha pulseirinha para entrar no estúdio, poucas pessoas podiam entrar, tinha o Fantástico cobrindo o tempo inteiro. Então, tudo isso dá uma pesada no rolê, fica tudo meio assim: "Eita, parece que é importante mesmo, meu Deus, o que que tá acontecendo".
Houve uma técnica para não machucar a atriz Bella Campos?
A gente sempre tem um cuidado de não machucar. Eu agora estou com unha porque a segunda fase da Raquel ela tem unha comprida e pintada, mas lá eu não estava. Então não tinha esse problema. Mas o pessoal da ação fica com a gente, preparando, fazendo quase uma coreografia para que não haja contexto de machucar ninguém. Então, tem um trabalho técnico muito forte por trás sim. Tem um tapão na cara da mão que vem de trás, sabe? Então como é que a gente vai fazer esse tapa? Como é que a gente vai fazer para eu não machucar a Bella? Tem todo um pensamento técnico e uma preparação por trás para que a integridade física da atriz seja mantida.
Como foi assistir à cena no ar e qual recepção do público?
Assisti ao capítulo com meu marido. As crianças estão de férias e viajaram. Eu e Lázaro estávamos sozinhos em casa e ficamos bem apreensivos (para o resultado). Nosso trabalho mistura técnica e emoção. A reação foi linda, recebi uma onda de amor dos meus colegas, dos meus amigos e do público. Foi lindo demais. O mais importante é fazer com que o outro sinta a emoção. Esse é o nosso trabalho. Sabia que as pessoas estavam esperando muito por essa cena e, obviamente, queríamos que as pessoas curtissem. Vale Tudo é uma novela em que pessoas ficam comparando muito com a outra. Essa versão é uma homenagem à outra. A gente não pode comparar. A gente está aqui para homenagear.
Você participou das decisões sobre as mudanças físicas e comportamentais da Raquel nessa nova fase? Como foi esse processo de criação?
A gente sempre faz um trabalho em conjunto tanto com a caracterização quanto com o figurino. O figurino tinha a questão de que a gente não podia perder a identidade dela. Ela gosta de estampado, não pode perder isso. O que a gente pode fazer? A gente pode sofistica as estampas. Mas o que ela entende como gosto, enquanto pessoa rica, nunca vai ser igual ao dos Roitman. Ela entendeu que ela precisa montar um personagem para ser aceita pela sociedade. Não é um desejo dela. O desejo dela é de se cuidar, ficar mais bonita, ela se entendeu, sim, o quanto ela é poderosa, independente da filha, independente do Ivan, como ela, Raquel, é forte, poderosa e competente. Ela passou a gostar de si, conquistou uma autoconfiança. A outra coisa é que ela entendeu que quando ela muda a roupa dela e a maneira de se comportar, ela vai ser mais aceita pela sociedade.
E sobre o cabelo? Por muito tempo o cacheado e crespo não foram vinculados ao sofisticado.
Raquel tem cabelo comprido, volumoso... É muito volume! A gente quer que ela seja orgulhosa de quem ela é. Ela aprendeu que ela é bonita. No momento que ela olha pro espelho, ela fala 'cara, olha só, eu me entendo como uma mulher bonita'. E como é que eu posso ficar mais bonita? O que que tem aí no mercado que vai poder me potencializar? E ela vai fazer uso disso, mas dentro de quem ela é. Nunca dentro do que as pessoas esperam que ela seja.
"Hoje temos uma população negra mais consciente de quem é e de como o Brasil olha para a gente"
Você está celebrando 30 anos de carreira, é referência para mulheres negras no Brasil, e assume o protagonismo de uma novela marcante de quase 40 anos. Como você percebe a evolução da autoestima negra nesse período?
Hoje, a gente tem uma população negra muito diferente do que tinha em 1988. E com uma autoestima mais trabalhada, uma consciência racial mais elaborada. É um país de muitas mazelas ainda, obviamente, mas tem uma população negra mais consciente de quem é e de como o Brasil olha para a gente. Não estamos lidando mais com aquele Brasil que acreditava na democracia racial, que todos somos tratados iguais pela sociedade. É muito bom que esse véu tenha caído. A partir daí a gente tem uma quantidade enorme de mazelas para lidar, mas pelo menos a gente está sabendo com quem está lidando.
Muitas mulheres negras te reconhecem num lugar de ícone de beleza e sucesso para a comunidade. Você mesma se enxerga nessa posição?
Antes, eu tinha um pouco de receio dessa responsabilidade. Só depois entendi que não é um peso, acho que a palavra mesmo é responsabilidade. E hoje eu tenho muito orgulho de ocupar esse lugar e eu entendo a importância, porque tem uma lacuna aí que precisava ser preenchida. Porque a gente tinha as grandes referências, as mulheres mais velhas que vieram antes, a Zezé Motta, Ruth de Souza, Léa Garcia, mas a diferença de idade entre eu e elas é quase o dobro. Faltavam referências mais próximas. Se a gente parar para olhar, tem uma geração entre a Zezé e a minha, que hoje está com quase 60, que é uma geração que não foi vista. Então, quando eu entendi a importância de ocupar esse lugar, eu tive muito prazer de estar com responsabilidade, de construir uma nova narrativa sobre nós.
Passando um pouco para a questão da maternidade, como que é a Taís mãe? Existe algo na forma como a Raquel exerce a maternidade que você não faria, que você não acha legal?
Eu acho que eu sou uma mãe que coloco limites. Porque para mim limite é amor. E se eu não der limite, quem vai dar mais tarde é a sociedade vai ser muito pior. É, acho que é isso que me difere da Raquel. Acho, sim, que eu faria de tudo e muita coisa para resgatar um filho que está perdido. Isso sim. Mas eu acho que faz parte do limite fazer com que os seus filhos assumam as suas responsabilidades, as responsabilidades das suas escolhas. E é isso que a Raquel faz no ponto de virada dela, né? Eu falo com meus filhos, desde crianças pequenas, tipo se você escolheu isso, banca a sua escolha. Toda escolha implica uma renúncia, amor.
E como é a conversa sobre dinheiro com eles? Na novela vemos uma relação de mãe e filha marcada pela ganância e sede de poder da mais nova.
Eu falo muito com os meus filhos sobre a responsabilidade com o dinheiro. Eu não sou herdeira, entendeu? Meu dinheiro é fruto de muito trabalho. E o fato de você ter dinheiro, não quer dizer que você não vá agir de forma responsável. Não é usar a revelia. Você tem que ser responsável. Eu alerto eles o tempo inteiro, porque não é dizer assim: 'Ai, eu não tenho dinheiro para fazer isso'. Eu não faço esse drama para meus filhos. Eu falo: 'Tenho, mas eu uso com responsabilidade'. Porque o dinheiro um dia acaba, amor. A gente não tem um dinheiro que não vai acabar. Eu não tenho fortuna, aquelas fortunas que vieram de gerações em gerações. Então, tem que agir com responsabilidade. Eu falo para eles que a vida que eu tenho hoje é fruto de um investimento que meus pais fizeram em mim. Eu tive ferramentas para poder construir... A gente está dando todas as ferramentas para que eles construam a vida deles de acordo com as escolhas deles. A minha vida é a minha que eu construí, a de vocês vai ser a de vocês que vocês vão construir a partir das ferramentas que eu tô dando para vocês. Construam suas histórias.
"Eu não sou herdeira. Meu dinheiro é fruto de muito trabalho"
Vocês não incentivam ficar na sombra dos pais...
Não, eu falo pra eles: vocês são inteligentes, capazes, saudáveis, tá tudo certo. Tem ferramenta, tem todos os privilégios da vida para vocês voarem. E a outra coisa que eu falo para eles é: 'Procura escolher trabalhar no que você ama, para você ser feliz, porque você vai passar a maior parte do tempo no seu trabalho. Você tem o privilégio, num país como esse, em que as pessoas trabalham no que dá para sobreviver, então, escolhe o que você ama'.
Trinta e sete anos separam a primeira versão com a atual. Pensando num mesmo período para uma terceira versão, você estará vivendo os 80. Como é esse cenário para você? Teremos Taís atuando? Como você se imagina?
Ai, eu quero ser uma senhora que vai ao cinema com as amigas, sabe? Que planeja viagens, quero viajar muito. Quero ainda estar em cena. Mas quero estar menos porque eu quero aproveitar o que eu construí. Mas não precisa chegar aos 80 não, isso já vai ser em 2026. Se Deus quiser. Meu plano de 2026 é viver. Quero viver. O quê que eu quero fazer? Ai, uma aula de dança, uma viagem, estudar fora, não sei o que. Milhões de planos para viver, para usufruir do que eu construí nesses 30 anos. Eu mereço.
Vem aí um hiato depois de Vale Tudo?
Não, mas eu acho que eu tenho a necessidade agora de viver e de realizar sonhos que não sejam só relacionados ao trabalho. E eu já posso me dar esse luxo. Eu preciso é sair dessa roda viva que eu mesma criei, de estar sempre produzindo. Entender que descansar, viver e realizar os meus sonhos que não são ligados a trabalho, eles me favorecem também.
CRÉDITOS
Fotos: @fernando_tomaz
Texto: @moraeslu__
Edição: @anacmoura
Design de capa: @manupellegrini__
Make: @henriquem85
Styling: @carolinecostax
Direção de arte: @nidia_aranha
Assistentes de Fotografia: @fabriciomarconi, @felippescosta @guiferrazz391
Assistente de beleza: @vitormalibu
Produção de moda: @jobasantana @tulanyfreitas @iamraquelpaiva
Camareira: @marciacosturaetc
Produção executiva: @cbastos
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Agradecimento: @bretonoficial
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