Giovanna Ewbank fala sobre tabus sexuais: 'Só transei com cinco caras'

22/04/2024

Fonte: O globo Por Marcia Disitzer

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Prestes a estrear programa no GNT, apresentadora ainda fala sobre maternidade e racismo: 'Daqui a pouco, Títi e Bless vão sair sozinhos e não estarei ao lado deles para protegê-los'

Giovanna Ewbank tem olhos de um azul transparente. Tem também corpo escultural, barriga chapada, rosto de boneca. Poderia ter se acomodado no passaporte da beleza e construído a carreira em cima da opressora imagem de Barbie. Porém, a paulistana, de 37 anos, subverteu o que esperavam dela. Na terça-feira, quando o programa “Quem não pode se sacode”, que divide com Fê Paes Leme, estrear no GNT, é ela, que traz para a TV o estilo que consagrou no YouTube, quem vai rir por último.

De “namoradinha de Bruno Gagliasso” (com quem é casada desde 2010) a fenômeno na internet como entrevistadora, mãe “leoa” de três e mulher de negócios, Giovanna percorreu um surpreendente caminho. “Só agora entendi que foi por mérito meu”, analisa. Algumas reviravoltas são marcantes: em 2015, numa viagem a trabalho para o Malaui, quando nem pensava em filhos, deparou-se com Títi (hoje com 10 anos) em um abrigo. “Meu parto foi ali, naquela hora”, lembra, emocionada. Na sequência, vieram Bless e Zyan, atualmente com 8 e 4 anos. Em 2016, para se dedicar à adaptação da primogênita, abriu um canal no YouTube, sem imaginar o quão longe isso a levaria. Os números “falam” por si: são 5,3 milhões de inscritos, 700 milhões de views em quase mil vídeos, 85 bilhões de horas assistidas e mais de 60 funcionários. No perfil do Instagram, soma 30 milhões de seguidores. De quebra, passou a ser estrela da publicidade brasileira. “O mercado é muito maior e mais rentável para as mulheres do que para os homens”, frisa.

Apresentadora superdesinibida de um talk show chamado “Surubaum” no YouTube, ao lado de Bruno Gagliasso, é capaz de arrancar confidências picantes de famosos. Porém, admite ter tido apenas cinco parceiros sexuais (incluindo o marido) e tabus em relação ao assunto. Descreve o sexo anal como “um negócio muito difícil” e diz que “nem conseguia falar sobre o tema”. Diante das câmeras, porém, aborda com naturalidade ímpar.

Em determinado momento, surge a questão: será que o Bruno é quem agora está sendo chamado de “marido da Giovanna”? “Em alguns lugares, sim (risos). Em outros, continuo sendo a ‘esposa’ dele. Mas a gente gosta. Bruno celebra onde cheguei”, responde, orgulhosa.

Na entrevista de duas horas, feita na casa do casal, no Rio, com direito a bolo de banana e café, a apresentadora lembra o começo da carreira, fala sobre maternidade, casamento, sexo e luta antirracista. A seguir, os melhores trechos da conversa.

Como tudo começou

“Só eu sei como bati na porta de produtores de elenco. Aos 19 anos, atuei em ‘Malhação’ e comecei a fazer pontas, tentando mostrar que poderia ir além. No meio disso, me envolvi com o Bruno. A partir desse momento, as oportunidades sumiram. Deixei de ser a Giovanna Ewbank, uma atriz em ascensão, para ser a ‘nova namoradinha do Bruno’. Não era nem mais chamada pelo meu nome.”

A profecia de Faustão

“Foi o Faustão (Fausto Silva, apresentador) quem me abriu os olhos. Em 2014, participei da ‘Dança dos famosos’, e ele prestou atenção em mim. Um dia, me falou: ‘Você tem estrela de comunicadora’. E me colocou fazendo reportagens. Foi graças ao ‘Domingão do Faustão’ que estive no Malaui.”

Outro tipo de parto

“Essa viagem (para o Malaui) transformou a minha vida. Nem pensava em filhos. Mas, quando olhei para a Títi pela primeira vez, ela abriu a porta de um abrigo que fui conhecer por mero acaso, entendi que ficaríamos juntas (lágrimas). Ela não quis mais sair do meu colo. Virei mãe, meu parto foi ali, com ela, naquela hora. Algo de outro plano mesmo.”

O bebê “sem cor”

“O único filho programado foi o Bless. Engravidei do Zyan na semana em que trocaria o chip contraceptivo. Foi uma loucura na minha cabeça, a chegada dele me preocupou muito. Tinha medo de como Títi e Bless iriam enxergar o irmão que ‘vinha da barriga’. Por mais que tenha tido sempre uma conversa sincera, eles sempre souberam que vieram do meu coração (lágrimas). Zyan nasceu e foi tudo lindo. Lembro que o Bless perguntou: ‘Meu Deus, por que ele não tem cor? (risos). Foi muito fofo.”

Youtuber, sim, e daí?

“Quando Títi chegou, eu apresentava o ‘Vídeo Show’. Precisei me desligar do programa para dar a atenção de que ela precisava. Mas não queria ficar parada. Foi assim que, em 2016, surgiu a ideia do canal no YouTube e comecei o ‘Na cama com Gio Ewbank’. Naquela época, eu mesma tinha preconceito comigo e com a internet. Não queria falar que era youtuber, dizia ser apresentadora e atriz. Hoje tenho o maior orgulho disso.”

Crises de ansiedade

“Durante a amamentação de Zyan, fui contratada para apresentar um programa no streaming. Começou a pandemia, e o Bruno foi para Espanha gravar uma série. Eu me vi precisando responder a todas as demandas emocionais de duas crianças e um bebê. Enquanto isso, Bruno seguia na Espanha, onde ficou três meses. Um determinado dia, comecei a sentir falta de ar, taquicardia, suor. Como minha mãe teve síndrome do pânico a vida inteira, identifiquei rapidamente os sintomas. Foi ali que entendi que não tinha como dar conta de tudo. Naquele momento, virei a chave e me questionei por que não tinha batido o pé para ele não ir. Rescindi o contrato com o streaming e fui com a minha mãe e as crianças para Portugal, ao encontro do Bruno.”

Sobrecarga feminina

“Outro dia, voltei a ter crise de ansiedade devido à sobrecarga e publiquei um post no Instagram, abordando o tema. Nós, mulheres e mães, estamos sempre nesse dilema, divididas entre a maternidade e a carreira. Mesmo meu marido sendo maravilhoso e tentando se desconstruir todos os dias, a exaustão e o peso da saúde mental recaem sobre mim, que sou mulher”.

Quem quer biscoito?

“Duas semanas depois desse post, em que dividi minha angústia, publiquei uma série de fotos minhas, de biquíni, no Rancho da Montanha (casa de campo do casal, localizada em Paraíba do Sul). Aí recebi várias mensagens do tipo: ‘Ué, você não estava mal?’. Mas é isso, não quero ser só a mãe descabelada, eu sou várias, tenho altos e baixos. Postei para me sentir bonita, querendo que as pessoas me elogiassem, quem sabe. Também pode ter sido por necessidade de receber ‘biscoito’. Não acho que meu corpo oprima outras mulheres. Trabalho com a minha imagem e cada uma é uma. Não tenho medo das críticas. Sou uma potência como mulher, profissional e mãe. Demorei muito para me enxergar nesse lugar e não vou deixar de me ver nele.”

‘Surubaum’ sem suruba

“Eu e o Bruno queríamos, há tempos, apresentar um programa juntos. Então, nos apropriamos do que virou uma espécie de lenda urbana (boato na internet espalhou que o casal promovia festas íntimas para amigos famosos em pousada em Fernando de Noronha). Não sou desconstruída sexualmente. Tenho vários tabus. Sexo anal, para mim, é um negócio muito difícil, tenho até dificuldade de falar sobre. Mas, no programa, me vi discorrendo sobre o assunto. Não perdi a virgindade com o Bruno, mas tive poucos pares, foram cinco contando com ele. Somos monogâmicos. Jovem, não conversava sobre sexo com a minha mãe. Aprendi a dar prazer para o homem. Porém, demorei muito tempo para entender que o meu prazer era importante.”

‘Quem não pode se sacode’

“É um programa de entrevistas com plateia. A cada episódio (20, ao todo), recebemos três convidados, que participam de brincadeiras e fazem revelações. Tem até divã, em alusão à terapia. Trouxe um pouco da TV para o YouTube e levo agora o YouTube para a TV. O Zyan sentiu a minha ausência, e eu fiquei mal. Gravamos tudo antes de a Fê (Paes Leme) ter bebê. Coube a ela me acolher por causa dessas questões. E, a mim, a acolhê-la por conta da gravidez. Foi especial. (Esta entrevista foi condedida antes de a internet ir à loucura com um post de Fepa queixando-se do afastamento de Bruno).”

Racismo

“Daqui a pouco, Títi e Bless vão sair sozinhos e não estarei ao lado deles para protegê-los. Falamos muito sobre o tema, principalmente depois do episódio em Portugal (em 2022, Títi e Bless foram vítimas de racismo no país). O Ministério Público Português aceitou a denúncia. É uma vitória? É. Mas pequena, ao contrário do racismo, que segue matando e ferindo. Aprendi que a gente não pode parar. Só cobrando e conscientizando as pessoas será possível sonhar com uma sociedade sem esse tipo de crime.”