Fernanda Montenegro sobre governo Bolsonaro: 'Estamos nas catacumbas, vivos'

21/03/2022

O globo Por Fernanda Godoy

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Às vésperas de tomar posse na ABL, atriz fala sobre cultura, envelhecimento e imortalidade

Aos 92 anos, às vésperas de se tornar imortal pela Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro recebeu a Revista ELA em sua casa, no Rio, para uma conversa franca sobre cultura, envelhecimento e imortalidade. A atriz, que ama a vida “desesperadamente”, aspira à imortalidade física. Crê que o Brasil voltou à estaca zero, que estamos “sem plumagem, com a pele entregue à intempérie”, mas não se cala. “Chegou a hora das perguntas desassossegantes’’, diz.

É uma mulher aberta a falar com paixão e profundidade sobre teatro, nação, amizade e amor. "Quando o coração está presente, até o insuportável é suportável', afirma, sobre ter vivido um único amor, ao lado de Fernando Torres, por seis décadas.

O GLOBO - Enquanto se arrumava para este ensaio fotográfico, você disse: “Agora não é uma personagem, sou eu”. Na Academia Brasileira de Letras, a Fernanda de fardão quem será?

FERNANDA MONTEGRO - Tem que aprender. Ali tem um ritual bem vivido, a Academia caminha pra 130 anos. Há uma estrutura ritualizada. Sempre foi um espaço cultural consagrado e resistiu ao tempo. Há muitos anos frequento a Academia porque amigos tomam posse, então eu me propus. Achei bonito o reconhecimento dessa arte de palco. Uma coisa é a dramaturgia. Outra é um ser humano em cena, jogando sua criatividade em cima de outro ser humano imaginado por um poeta, por um escritor. Cada um entra com a sua vivência, seu tempo, sua resistência, seu fôlego.